IRMA, IRMÃ
Bem que te vi lá na praça, quando passavas cheia de graça. Bem que te seguiu, meu olhar, até a igreja: bem-vinda sejas! Bem que contei as contas do terço enlaçado em teu missal! Bem que te ouvi suplicar: “livra-me, Senhor, de todo o mal”. Te escondeste, sim, de mim, numa sala da escola paroquial. Te esgueiraste, cautelosa, pressentindo meu laço premente. Te portaste silenciosa, quando ensaiei o meu primeiro tento. Te fiz, aí, pecaminosa: já minha sombra sombrejava teu seio. Vi meu ombro roçar o teu e o fulgor de duas almas incender. Vi nos teus olhos luzidios, fogosas pupilas em doce passeio. Vi tua mão, trêmula, encardida de giz, acariciar belo buquê. Vi, depois, que o remetente das flores também te escolheu. Hoje, risonha e sedutora irmã, somente teu rosto meigo vejo. Na freiria, Teu Senhor te amparou e te livrou de mil desejos. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 11/02/2011
Alterado em 03/04/2012 |