ABOLIÇÃO DA ESCRAVATURA
Abolição da escravatura no Brasil. Um ex-escravo é entrevistado: Com a Abolição, / quanto foi sua indenização? - Nem um tostão. Tanta terra tem teu amo, / tanto gado e plantação!?... - Agora, não é mais “amo”. Chamamos de “meu patrão”. O gado tá lá no campo engordando pro abate. A plantação, eu que fiz, algodão, milho e feijão. Fiz leirão em toda parte. Arranquei muita raiz. E quanto o patrão pagou? - Nunca ele me pagou, não. Mas - sabe! - é bom patrão! Todo dia ele me dá prato cheio de feijão, de manhã me dá café com um pedaço de pão. Inda sou descamisado, mas pra ver como ele é, me deu tecido de chita. Fiz camisão pra mulher, que até ficou mais bonita. Com a sobra fiz um calção que é este que eu amarro na cintura com um cordão. Está até sujo de barro, vou lavar no mês que vem. Não se espante com o mau cheiro, é o cheiro da escravidão. Proclamada a Abolição, / você sabe o que é Liberdade? - Liberdade?!... Acho que sei, sim senhor. Liberdade é quando a gente, arruma o matolão e foge para a cidade. Perseguição acabou! Lá, fica embaixo da ponte, No frio, sem cobertor, dependendo da bondade de algum bom cidadão que traga comida e roupa ou mesmo um prato de sopa de feijão com macarrão, que a gente come à vontade e não precisa pagar, não!... Isso é que é Liberdade!!!... Finalmente, o senhor sabe / o que é Abolição? - Abolição?!... Não! Isso eu não sei, não. Me desculpe, mas deve ser um brinquedo de princesa que vive em isolamento, sem ter nada pra fazer nos palácios da realeza. Pelo que disse um estudante, que vem aqui em fim de ano, isso é coisa de americano... Lá, se fez pra toda a gente, que estava na escravidão, uma lei bem diferente, que obrigou latifundiário, posseiro ou proprietário, pagar aos seus ex-escravos a mais justa indenização. Ganharam terra, gado, numerário... A isso, sim, eu chamo de Abolição. Aqui, o que se ganhou, de fato, foi solidão e muita perseguição pelo capitão do mato. Ah, sim! Algo mais que faltou: a Abolição parece que inventou uma coisa chamada “salário”. Então, só mudou de nome: quem era “escravo” se chama agora "operário". Recife, maio/2011. ------------------------------------------------------------- Uma contribuição para a Ciranda da Liberdade, coordenada pela poetisa Ana Stoppa. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 13/05/2011
Alterado em 14/06/2011 |