Um prefácio importante:
Estou abrindo uma janela de minha escrivaninha para uma jovem musicista - Vivianne Braga - debruçar-se e nos brindar com um seu maravilhoso e emocionante conto. Trata-se de episódio por ela vivenciado no recinto da biblioteca da UFPE, que ela mesma teceu e mo ofereceu de presente. Faço questão de editá-lo neste Recanto, como se tivesse cedendo o espaço para uma das minhas filhas. Muito honrado, regozijo-me por trazê-la em visita à nossa comunidade, ciente, já, do carinho com que será recebida pelos estimados recantistas. Boa leitura. Fernando A Freire ________________________ SURPRESA NA BIBLIOTECA Era uma tarde entediante em meu trabalho, na UFPE. Eu estava navegando na internet, enfastiada, sem muito ânimo... Então, resolvi ir à biblioteca folhear alguns livros. Lá, peguei dois livros e me sentei em uma área isolada. A biblioteca estava praticamente vazia. Período de férias. Ao sentar, observo de longe um senhor, aparentando uns oitenta anos, sozinho, com um montão de livros. Quase não dava para vê-lo. Pensei: “Ele deve ser professor ou um aluno muito aplicado, cercado de tantos livros”. Ao olhá-lo com mais atenção, percebi que era parecidíssimo com meu pai !!! Tentei não olhar muito para ele, mas parecia estar perdendo o domínio de mim mesma. Inquieta na cadeira, não conseguia me concentrar na leitura. Abri o livro, escondendo o rosto, tentando ler, mas a vontade de olhar por cima do livro era maior. Aí, decidi o que deveria fazer. Levantei-me, fui até ele e falei: "Senhor, com licença, desculpe-me perturbar sua leitura. Não pense que sou louca, mas preciso dizer que o senhor parece muito com meu pai, e eu o perdi um pouco antes do último Natal. Queria saber se o senhor pode me dar um abraço bem forte. Vai me fazer muito bem". Fiquei aguardando sua reação. Depois que terminei de falar, ele me olhou fixamente nos olhos. Lentamente, sua boca foi se abrindo em um sorriso e ele estendeu os braços para mim. Eu o abracei e chorei muito... O silêncio reinou por alguns segundos, até que ele perguntou, suavemente: "Antes do Natal?!... Que triste!... Seu Natal deve ter sido ruim!..." Respondi-lhe: "Foi horrível !" Ele sorriu com meu modo de falar e asseverou que tenho um sotaque bem nordestino. Nada mais perguntou. Não sei se ficou sem saber o que dizer, diante de minhas lágrimas, ou se preferiu não conversar sobre meu pai. Perguntou-me onde eu trabalhava, o que eu fazia... E eu lhe perguntei por que estava com tantos livros (?). Havia livros sobre terceira idade, geriatria, hábitos alimentares para idosos, tudo relacionado a esse assunto. Ele explicou que queria ler sobre isso porque depois que os filhos crescem, vão embora e os pais têm que se virar sozinhos. Falou que sentia o desejo de melhorar seus hábitos alimentares e adquirir melhor qualidade de vida, para ele e a esposa. A conversa durou cerca de trinta minutos. Era hora de voltar ao meu trabalho, ou melhor, à minha falta de trabalho... Falei-lhe que precisava ir, pedi desculpas por atrapalhar sua leitura e agradeci por ter-me recebido tão bem e por me propiciar uma tarde agradável e inesquecível. Sua resposta foi: "claro que eu receberia você bem! Não é todo dia que somos comparados com pessoas importantes e significativas! Você me deu uma tarde diferente". Sorrimos e abraçamo-nos mais uma vez. Ao retornar ao trabalho, percebi que eu não havia perguntado o seu nome, tampouco lhe disse o meu. Enfim, foi uma tarde mágica, como acontece nos filmes. Refleti por alguns instantes e me achei um pouco maluca em ter feito isso, mas fiz o que meu coração mandou e proporcionei uma tarde diferente àquele senhor que estava ali, sem sequer imaginar a surpresa que encontraria na biblioteca. Vivianne Braga Barbosa Recife, 21/01/2011 -------------------------------------------------------- Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 19/05/2011
Alterado em 26/05/2011 |