Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

QUEM ME ESPERA SEMPRE ALCANÇA


SOU CARNE E OSSO
DE PESCOÇO,
MOÇO DURO DE ROER.
SOU DURO NA

QUE É DA PEDRA QUE HAVIA NO CAMINHO ?
CHUTEI AS LÂNDRIAS DA ROCHA ADORMECIDA.
ESPATIFOU-SE EM PEDACINHOS.
ACABOU-SE O QUE ERA DOCE !

MUDEI O MUNDO DRUMMONDIANO.
VEJO POETAS ENFURECIDOS.
PEDRA, PRA QUE TE QUERO 
 ?...

LAR, DÓ, SI, LÁ !
BOA ROMARIA FAZ QUEM SUJA A CASA
E ESTÁ EM PAZ
NA TERRA TAMBÉM AOS DE MÁ...

VONTADE DE FICAR, MAS TENDO QUE IR...
EMBORA,
NÃO, NÃO,
 NÃO VÁ
LAVAR AS MINHAS MÃOS,
FERIDAS DE TANTO FERIR
IRMÃOS.
 O CORPO ALQUEBRADO.

TRAZ-ME UM CHÁ!
DE QUEBRA-PEDRAS?
NÃO ! ! !

DELEITO-ME NA CAMA,
DE PERNAS PRO AR :
NINGUÉM É DE PEDRA !
PÉS SUJOS DE LAMA
E SEMPRE DESNUDOS,
CHOVA OU FAÇA SOL,
SUJAM O LENÇOL.
ÁGUA LAVA, LAVA LÍNGUA,
MAS NÃO LAVA TUDO...

NÃO LAVA MAIS A PEDRA DURA.
BATE E REBATE,

E MEU GOLE OU CHUTE
BATE-BATE É QUE FURA !

FURA-BUCHO, FURA-CAMISA,
FURA-VIDA, FURA A AÇÃO...
FURA A PELE DILACERADA,
COSTURADA À MÃO,
PONTO A PONTO.
UM PONTO PRA CADA CONTO.

QUEM CONTA UM CONTO...
É MACHADO,
ACHADO ASSISADO NUMA CONSTELAÇÃO.
CÃO MAIOR, CÃO MENOR...
NÃO SEI DE COR !
UM CÃO COM NOME DE CRISTÃO,
QUE NÃO LADRA.
CÃO QUE LADRA, NÃO MORDE !
QUEM SABE,
NUMA ESTRELA QUE SACODE
A CAUDA !...

FURA A AÇÃO ?
NÃO!
EU LI FURACÃO !!!...
CORRE PRO MATO,
PEGA O ATALHO !...
CAUDA MACACO NO SEU GALHO !

GALHOFO DO ESPELHO
QUE ME FAZ GRISALHO.
PASSOU O MEU TEMPO DE ÓCIO.
SEJA COMO FOR,
VIVER É BOM NEGÓCIO.
NEGÓCIO É NEGÓCIO,
ESPELHOS E AMIGOS SE APARTEM !

MAS, CACOS ME MORDAM
SE NÃO FOR VERDADE.

UM BRADO !...
QUE BRADO ?!...

RETUMBANTE, O ESPELHO VIROU
CONTO DE TERROR !
UM SÓ CACO REFAZ
O TODO QUE SE ESPEDAÇA,
FAZ CRESCER MINHA VAIDADE
OU MINHA DESGRAÇA.
E AINDA REFLETE DIGNIDADE:

« SOU O ESPELHO TEU,
EXISTE ALGUÉM MAIS HONESTO DO QUE EU ?»

NÃO LHE RESPONDO
E A PELE E MEUS PELOS ESCONDO.
TOCOU NA MINHA FERIDA :
PELE E ALMA ENFRAQUECIDAS.
PELE SIM, PELO NÃO,
VEM A IMAGINAÇÃO, USO A CABEÇA.
PRA CABEÇA OCA, QUALQUER DESGRAÇA
É POUCA
.

ÉPOCA DE TESTAR
O FRAGMENTADO ESPELHO :
VIDRO-MOLE EM CABEÇA DURA,
TANTO BATE ATÉ QUE FURA.

FURA A TESTA,
O SUPERCÍLIO, A FORMOSURA.
NAVALHA NA CARA DA MINHA JUVENTUDE.
FIZ O QUE PUDE.
FINDA A FESTA.

TUDO QUE NÃO TEM FIM
É VIRTUDE, É MISTÉRIO OU É RUIM !...
QUANTO DEUS DARÁ POR MIM?

E ESSE PEDACINHO INDIVISO,
REFLEXIVO,
OLHO NO OLHO,
OLHANDO SISUDO PRA MIM.

ENFIM, O FIM DA FORMOSURA
E
DA MINHA BRAVURA.
É QUE DELE OUVI UM
CONSELHO
(FOSSE BOM SE VENDIA) :


« CRIA JUÍZO,
VIVER, SIM, É QUE É PRECISO ».
« QUANTO MAIS ME QUEBRAS, MAIS SOBREVIVO ! »
< E TUA SOBREVIVÊNCIA DEPENDE DE MIM >

VI-ME, NOVAMENTE,
NO MENOR FRAGMENTO OBSTINADO
DO ESPELHO QUEBRADO
E OUVI DO CORO DOS CACOS
UM VOZEAR PERTINENTE :

« TU INSISTES (EM NOS OLHAR), LOGO EXISTES ! »

DESCARTO DESCARTES,
RENEGO AS FILOSOFICES
E A TUDO NEGO,
NÃO ME ENTREGO.
SEI QUE ESTOU UM TRAPO,
PREGUEADO DE ESPARADRAPO.

AÍ, CARA AMARRADA,
AMARRO UMA GRAVATA NO PESCOÇO.
AGRADA-ME O TRAJE,
PORQUE O ULTRAJE FAZ O MONGE.

AGORA, COM OUTRA IMAGEM,
FICO A DIVAGAR :

É MESMO DEVAGAR QUE SE VAI LONGE ?
E ME VEJO, AGORA, TÃO PERTO !...
- VELHO MOÇO -
MAS O ESPELHO NÃO MENTE.
EMUDECE, PREGUIÇOSO.

OUÇO:
"QUEM EM MUITAS PEDRAS BOLE,
UMA LHE CAI NA..."

»CABEÇA NÃO PENSA, CORPO É QUEM PADECE».
OBEDECE, OBEDECE !

SÃO OS APELOS DA PELE
E DOS PELOS
ESCONDIDOS SOB OS EMPLASTROS
E O MANTO QUE ME REVESTE:

«TU CONTINUAS CARNE E OSSO.
JÁ NEM PRECISAS DE ESPELHO !
SOMENTE NÓS VAMOS TE MOSTRAR
(OU TE ENGANAR)
SE ESTÁS MAIS MOÇO OU MAIS VELHO».

MAS, MINHA PELE E AS CÃS
ME ENTRISTECEM TODAS AS MANHÃS.
SE SEGURO MORREU DE VELHO,
VOU SEGURANDO A VIDA.
HÁ VIDA, ENQUANTO HÁ ESPERANÇA.
DAREI TEMPO AO TEMPO
ADERINDO ÀS MÁGICAS E ÀS PLÁSTICAS.
 AINDA ME ESPERO, MAS NÃO ME RENDO
ENQUANTO ESTIVER ME VENDO:

QUEM ME ESPERA SEMPRE ALCANÇA

E, SE ME RENDE, LOGO APRENDE :
SER HUMANO  É MUTÁVEL,
OSCILANTE, VULNERÁVEL,
ENVELHECÍVEL, DESDE A INFÂNCIA.
TUDO QUE EM SI MODELE,
A NATUREZA NÃO REPELE,
LOGO SE DEFENDE
E NÃO RECLAMA.

.     PRA FRENTE É QUE SE AMA ! . . .

(Fernando A Freire)

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NOTA  DO  AUTOR : 
Para subsidiar eventuais comentários, o autor informa que, direta ou indiretamente, inseriu fragmentos de obras dos seguintes Mestres da escrita:  Carlos Drummond de Andrade, Machado de Assis,  Ovídio ("A Arte de Amar", escrito em latim 43 anos a.C.),  René Descartes e Luis Vaz de Camões.
Enfoca a trajetória do indivíduo, desde a juventude (atleta e imortal), passando pela fase adulta de intenso aprendizado (ver provérbios e trocadilhos) até o último período da universidade da vida (fase da autocrítica e do aconselhamento).
Agradece.
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INTERAÇÃO DE LINGUAGEM POÉTICA
02/03/2012 

Poetisa
Adria Comparini

Voltei para ler novamente e ver as alterações!
Continua muito interessante! 

"O amor junta os pedaços,
quando o coração se quebra,
mesmo que seja de aço,
mesmo que seja de pedra.
.."
(Ivan Lins)


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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 29/02/2012
Alterado em 30/11/2013


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