NO VENTRE DA NOITE, UM NOVO DIA
É como se dois amantes se entrelaçassem no plano horizontal de um pequeno planeta: seus únicos moradores. Concentrados na escuridão do ato, o desejo de um é o corpo e a alma do outro. O alimento de um é o outro. Mãos deslizantes sobre macias montanhas recém-descobertas. A alvura do cobertor de um, o tecido areolar do outro. O arfar de um, as batidas do coração do outro. O ouvir o prazer de um, o núcleo celular do outro. Um, hidrogênio, precisando hidratar o oxigênio do outro. Enfim, se desvendam e se veem com a mesma nudez mutuamente tocada e estimulada pelo desejo do outro. Juntam-se, então, os dois polos geradores de uma energia nascente e incandescente: o polo que provoca e o que consente. Assim se faz a luz, como se faz amor: energia provinda do choque de sangue que traz a semente de um energizado fornecedor. Assim se introduz nas partes íntimas da noite - já em orgasmo - a perpendicular trajetória do vigoroso raio de um novo dia, cujo acme é o calor e a ejaculação do belo na poesia. ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 30/03/2012
Alterado em 01/04/2012 |