Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

A MENINA QUE VIA TUDO AZUL


Sei de minha timidez e quase chatice, mas gosto de participar das festas de aniversário de crianças.  Brinco com elas, quando posso e o quanto posso.  Como brigadeiros, quantos me derem...  Encho de ar e, ao mesmo tempo, provoco o pipocar dos balões.  Atiço os palhaços, quando eles também são convidados.  E, na sublime hora de cantar o “Parabéns pra você!”, embora com voz de adulto, canto como se criança eu ainda fosse.  Caramba, cantar, brincar e dançar samba com criança, cansa ! . . .   Cansa, mas vale o cansaço.  Só os chatos convictos não sabem disso.

Hoje, por honroso convite, participei do aniversário da Lelê - ou Letícia para os não íntimos da bela família Rocha.  Diverti-me tanto, que até pensei que era eu o aniversariante !  A sorte é que todos os outros convidados tiveram o mesmo comportamento descontraído, divertido . . . 

Ia tudo bem quando, depois do “Parabéns...”,  recebo uma intimação: 

"somente me passariam uma fatia do bolo depois que eu declamasse uma poesia em homenagem à aniversariante". 

Um susto, claro, e um frio na barriga, porém, como gosto de bolo tanto quanto amo o poetar, atrevi-me sem tergiversar.  Compus um poema na perna - que se segue - em tempo recorde, não sem antes conhecer algumas peculiaridades da minha inocente e bela musa. 

Ufa !  Não é que descobri que, pra ela, qualquer cor se chama azul ! ! ! . . .  Foi a avozinha quem me disse.

Pois é !

Essa descoberta me impressionou, me inspirou e me salvou de um tremendo vexame.
    
Declame esse improvisado poema  comigo, caríssimo(a) recantista, compartilhando das gostosuras do
 

 
ANIVERSÁRIO DA LETÍCIA


Letícia,
pequeninha,
dois anos de vida.
Sente-se um brinquedinho
junto  aos  seus  brinquedos.
Todos,
personagens da sua história,
das canções de ninar,
dos seus segredos,
alegrias,
medos
. . .
Muitos,
amigos inventados,
divertidos, engraçados,
que até parecem lhe falar
e querer provar que têm memória.
Quer ver?
. . .
De repente,
Lua, a cadelinha da vovó,
o seu xodó,
traz um macaco de pelúcia
enganchado entre os dentes:
era o seu presente.
Que astúcia !
. . .
Noutro instante,
uma girafa elegante,
brinca de esconde-esconde
com um gordo elefante,
o cofrinho da aniversariante
. . .

E o pintinho amarelinho,
esbanjando malícia,
põe-se a piar,
debaixo da mesa,
suplicando o carinho
da sua princesa,
Letícia,
que brinca
 com todos esses seus amores,
sem preconceito de cores,
idades ou de raças,
pouco lhe importando
 se são terrestres
ou voadores
. . .
e
– sabe ! –
até a cantar lhes ensina
uma canção que assim termina:
amare-la-la/le-lê/li-li/lo/lu
. . .
Cores, para ela,
por indesbotável que seja a amarela,
ou a verde, ou a vermelha,
mais ardentes,

serão sempre cor azul,
pois,
tudo em seu mundo é azul.
Até o sol é azul !
. . .
Azul da cor do céu.
Azul da cor do mar.
Azul da cor do amar
(a adorável cor destes meus versos).
Azul da cor do olhar
do Deus do Universo
 . . .
Mas,
querida aniversariante,
fugindo à colorida regra,
quero “Le-lê” presentear
com uma bela e fulgorosa flor.
É uma flor de outra cor
 que ainda desabrocha.
Pena que não é azul !
 . . .
É rosa.
Uma bela rosa
bem cor de rosa.
Uma bela rosa
bem cor de Rocha.

. . .
. . .
João Pessoa, 24:11=2013
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 26/11/2013
Alterado em 27/11/2013


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