A MENINA QUE VIA TUDO AZUL
Sei de minha timidez e quase chatice, mas gosto de participar das festas de aniversário de crianças. Brinco com elas, quando posso e o quanto posso. Como brigadeiros, quantos me derem... Encho de ar e, ao mesmo tempo, provoco o pipocar dos balões. Atiço os palhaços, quando eles também são convidados. E, na sublime hora de cantar o “Parabéns pra você!”, embora com voz de adulto, canto como se criança eu ainda fosse. Caramba, cantar, brincar e dançar samba com criança, cansa ! . . . Cansa, mas vale o cansaço. Só os chatos convictos não sabem disso. Hoje, por honroso convite, participei do aniversário da Lelê - ou Letícia para os não íntimos da bela família Rocha. Diverti-me tanto, que até pensei que era eu o aniversariante ! A sorte é que todos os outros convidados tiveram o mesmo comportamento descontraído, divertido . . . Ia tudo bem quando, depois do “Parabéns...”, recebo uma intimação: "somente me passariam uma fatia do bolo depois que eu declamasse uma poesia em homenagem à aniversariante". Um susto, claro, e um frio na barriga, porém, como gosto de bolo tanto quanto amo o poetar, atrevi-me sem tergiversar. Compus um poema na perna - que se segue - em tempo recorde, não sem antes conhecer algumas peculiaridades da minha inocente e bela musa. Ufa ! Não é que descobri que, pra ela, qualquer cor se chama azul ! ! ! . . . Foi a avozinha quem me disse. Pois é ! Essa descoberta me impressionou, me inspirou e me salvou de um tremendo vexame. Declame esse improvisado poema comigo, caríssimo(a) recantista, compartilhando das gostosuras do
ANIVERSÁRIO DA LETÍCIA
Letícia, pequeninha, dois anos de vida. Sente-se um brinquedinho junto aos seus brinquedos. Todos, personagens da sua história, das canções de ninar, dos seus segredos, alegrias, medos . . . Muitos, amigos inventados, divertidos, engraçados, que até parecem lhe falar e querer provar que têm memória. Quer ver? . . . De repente, Lua, a cadelinha da vovó, o seu xodó, traz um macaco de pelúcia enganchado entre os dentes: era o seu presente. Que astúcia ! . . . Noutro instante, uma girafa elegante, brinca de esconde-esconde com um gordo elefante, o cofrinho da aniversariante . . . E o pintinho amarelinho, esbanjando malícia, põe-se a piar, debaixo da mesa, suplicando o carinho da sua princesa, Letícia, que brinca com todos esses seus amores, sem preconceito de cores, idades ou de raças, pouco lhe importando se são terrestres ou voadores . . . e – sabe ! – até a cantar lhes ensina uma canção que assim termina: amare-la-la/le-lê/li-li/lo/lu . . . Cores, para ela, por indesbotável que seja a amarela, ou a verde, ou a vermelha, mais ardentes, serão sempre cor azul, pois, tudo em seu mundo é azul. Até o sol é azul ! . . . Azul da cor do céu. Azul da cor do mar. Azul da cor do amar (a adorável cor destes meus versos). Azul da cor do olhar do Deus do Universo . . . Mas, querida aniversariante, fugindo à colorida regra, quero “Le-lê” presentear com uma bela e fulgorosa flor. É uma flor de outra cor que ainda desabrocha. Pena que não é azul ! . . . É rosa. Uma bela rosa bem cor de rosa. Uma bela rosa bem cor de Rocha. . . . . . .
João Pessoa, 24:11=2013 Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 26/11/2013
Alterado em 27/11/2013 |