Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

UM SALTO NO ESCURO


Mãos para trás,

pulsos apertados em algemas de gesso.

Frio estomacal,

qual paraquedista neófito.

Impelido sem oferecer resistência,

flutuei no ar.

Torturante giro no escurejar das trevas

 . . .

Enfim, sós ! 

Eu, em descenso na vertical, 

e o meu algoz,

que seguiu planeando na horizontal.

Formaram uma cruz nossas coordenadas

 . . .

Ninguém escutou meu derradeiro grito,

disperso no silêncio do infinito:

. . .“Independência ou Morte ! . . .”

Morte?

Indolência. . .  Languidez. . .  Talvez ! . . .

Corpo e alma na última descida da vida

. . .

Foi o meu pensar

no ligeiro instante

antes

do mergulhar profundo

num ondeado mar bravio

. . .

A escuridão das águas,

a mesma do noturno céu nublado,

a mesma dos pensares subordinados

. . .

Imaginei-me sobrenadando

em  lágrimas derramadas

de tantas mães e irmãos

em esperas vãs

. . .

Por certo,

meu corpo leve, a uma peso atado,

não ousou vaguear

nas vagas do revoltoso mar

 . . .

Fato consumado

 . . .

Virei marisco,

que ainda agoniza

entre ideológicas forças antagônicas.
 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 05/12/2013
Alterado em 02/04/2014


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