UM SALTO NO ESCURO
Mãos para trás, pulsos apertados em algemas de gesso. Frio estomacal, qual paraquedista neófito. Impelido sem oferecer resistência, flutuei no ar. Torturante giro no escurejar das trevas . . . Enfim, sós ! Eu, em descenso na vertical, e o meu algoz, que seguiu planeando na horizontal. Formaram uma cruz nossas coordenadas . . . Ninguém escutou meu derradeiro grito, disperso no silêncio do infinito: . . .“Independência ou Morte ! . . .” Morte? Indolência. . . Languidez. . . Talvez ! . . . Corpo e alma na última descida da vida . . . Foi o meu pensar no ligeiro instante antes do mergulhar profundo num ondeado mar bravio . . . A escuridão das águas, a mesma do noturno céu nublado, a mesma dos pensares subordinados . . . Imaginei-me sobrenadando em lágrimas derramadas de tantas mães e irmãos em esperas vãs . . . Por certo, meu corpo leve, a uma peso atado, não ousou vaguear nas vagas do revoltoso mar . . . Fato consumado . . . Virei marisco, que ainda agoniza entre ideológicas forças antagônicas. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 05/12/2013
Alterado em 02/04/2014 |