ROTINA SACRIFICAL
Lembra como foi bom nosso começo? Eu, rapagão tesudo, (com quem não mais pareço) e você, tímida, recatada, assustada, femínea... saboreando meus beijos, entendendo meus desejos e eu, os seus . . . Tudo parecia correto: colchão descoberto, guarda-roupa aberto, camisetas, camisinhas e camisolas pelo chão, roupas no varal pelo avesso... Total desarrumação: gostosura de um feliz começo. Sesta? Não, não fazíamos. Se o tempo em nós era festa, então . . . Ora essa ! Até perdemos o jeito de esquentar nosso leito ! Dois pássaros empoleirados, apaixonados. Foi pra isso que a natureza nos criou: viver de amor, comer o que hoje existe, mesmo aquele arroz com sabor de alpiste ! Gozar do irracional. E mais: ter a sensibilidade dos outros animais. Rir do porvir... . . . . . . . . . . - Vou ao trabalho, tenho que cumprir horário. Você não sabe se vai? Ih, perdeu o meu calendário!?... A que horas lhe vejo? Vai, mas, antes, quero mais um beijo... . . . . . . . . . . Horários, calendários, horas extras, reuniões, engarrafamentos, pouco espaço, aborrecimentos, assalto, asfalto, lamento, fracasso, cansaço . . . - Não, querida, hoje não! Estou igual a você: um bagaço, sem aspiração! Quer uma sugestão? Marque os dias sem ocupação!... . . . . . . . . . . - E esses dias virão?!... . . . . . . . . . . - Cio? Se o tenho, nem sei! Fastio, serve? Existe remédio pra esse tédio? - Não ! Conheço uma simpatia pra curar tua apatia. - Verdade? E pra ansiedade..., e pra solidão?... E pra suportar essa rotina, alguma vacina? - Detesto remédio, sabe?! O pior é que a gente, lado a lado, testa a testa, também já se detesta !... Parece que acabou a nossa festa. Quase nada presta. . . . . . . . . . . E o que mais nos satisfaz?! . . . . . . . . . . Pra salvar o nosso lar, que tal, fugirmos da loucura dos racionais?!... Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 19/03/2014
Alterado em 17/04/2014 |