Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

SONHEI, JURO QUE SONHEI ! . . . (05)

 
Chova ou faça sol, maré alta ou baixa, todas as manhãs, logo cedo, dou uma extensa caminhada pela beira-mar.   Seis quilômetros de ida e volta.  Para um maior esforço, procuro andar sempre com água à altura dos joelhos.  Não paro nem mudo de direção, mesmo no leva e traz das ondas.   Por enquanto – e por conta disso –,  acho que ainda ando bem das pernas ! . . .

Naquele domingo eu acabara de chegar de uma viagem meio longa. Fui buscar meus dois netos (idades entre cinco e seis anos) na capital vizinha.   Gosto de vê-los e de tê-los principalmente nos finais de semana.

Após a caminhada de sempre e o frugal café da manhã, deitei-me numa rede, a princípio com intenção de ler os jornais e revistas dominicais, mas não deu . . . 
Ainda cansado da viagem, adormeci logo no primeiro balanço . . . 


e sonhei . . .

Sonhei caminhando em minha praia, onde acontecia um campeonato de surfe. E meus dois netos ali estavam entre os concorrentes.  Traziam suas pranchinhas debaixo do braço.  Afoitos, se aproximaram de mim e me convidaram para também surfar. 

- Como surfar, se não tenho prancha ? ! . . .

Afeitos às coisas do mar (no meu sonho!), eles logo encontraram uma solução.  Amarraram-me à linha de uma pipa (ou papagaio), já empinada, e me atiraram nas ondas.  Pra mim, uma verdadeira viagem, a que eles chamam de “surf trip”.  Melhor ainda: um "fly surf", porque, afinal, eu estava mesmo era sob o comando aéreo de uma pipa, que me permitia até. . .

. . . andar ajoelhado sobre as águas.
  

Surfista que é surfista, anda em pé sobre as águas - com suas pranchas, é claro. 

Ora – desafiei –, em pé sobre as águas é muito fácil ! . . .    Sem ser santo, quero ver é andar assim, como eu, ajoelhado . . .  e – mais – sem prancha ! . . .

Só não podia me descuidar era do papagaio em sobrevoo ou plainando, sobre minha cabeça, a fim de sustentar o meu aquático vaivém. 

Graças aos bons ventos, eu me sentia, sim, um concorrente menos desafiador que   amostrado. 

E por quê? 

Porque nunca fui surfista.  Sou, sim, um avô entusiasmado que (mesmo em sonho) é levado pela grandeza das ondas dos netos.  

- Outra onda! - gritam.

Peguei um “tubo” e ainda tentei umas “rasgadas” e “floateres” - malabarismos radicais somente praticados pelos surfistas mais hábeis - que, naquele instante, me deixavam na “crista da onda”. 

O que mais chamava a atenção da “galera” era que eu estava cometendo essa façanha (própria deles) ainda ajoelhado e sem prancha. 

Quem ousaria imitar-me ? . . .


De repente, uma oportunidade de fazer um “looping fora da água”.  Essa manobra, rara, me deixaria de fato famoso . . .  Aí, alguém tocou em minha rede e eu . . .  

despertei ! . . .  

Meio atordoado, vi que estava tudo alagado debaixo de minha rede.

Poxa !   Era xixi ! . . .

Meus netos - surfistinhas - um de cada lado da rede, concorriam
pra ver quem fazia a maior poça ! . . .  

E o respeito ao avô, ó ! . . .
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 23/03/2014
Alterado em 23/03/2014


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