Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

SONHEI, JURO QUE SONHEI ! . . . (06)
 

Na noite de antes de ontem, sonhei salvando uma vida.  Com profundas e enormes cicatrizes em meu rosto e no peito, eu salvara alguém das afiadas garras de um bando de animais ferozes. Acordei deveras cansado e suado, sem ter ideia exatamente das imagens sonhadas, mas tinha certeza de que salvara uma criatura humana.
 

Dia seguinte, ainda pela manhã, viajei a Recife.  Lá, tomei um ônibus urbano (linha Caxangá/Boa Vista) em direção ao centro.  Posicionei-me junto à catraca – parte dianteira do ônibus – catando moedas no bolso para pagar a passagem.  À minha frente uma jovem senhora, grávida. 

De repente (como todos os “de repente”), o inesperado:

Alguém comete uma “barbeiragem” à frente e na mesma faixa do ônibus que nos conduzia.  Velocidade não superior a cinquenta quilômetros por hora.  O motorista, a fim de evitar uma indesejada colisão, acionou bruscamente o freio de emergência. 

Um quase impacto.  Grande rebuliço entre os passageiros.  Acho que fomos nós – eu e aquela senhora grávida – os mais seriamente atingidos, porque estávamos soltos, em pé e de costas para a inopinada ocorrência.  

Por isso, desavisado e desprotegido, fui arremessado de volta aos três degraus de acesso da porta dianteira.  Ainda não entendi o porquê, mas meu corpo se alojou na posição fetal.  Precisei de ajuda pra me levantar.  Pior:  um corte no supercílio encheu meus olhos de sangue, tanto que também me impediu de ver outras consequências da inevitável queda. 

Lenço insuficiente.  Uma pequena toalha retirada de minha bolsa ajudou a enxugar o sangue.  “Arre!  Meu sonho se inverteu!” – pensei. 


A senhorinha grávida foi, igualmente, catapultada.  Segundo ela e os passageiros que testemunharam, a freiada a atirou para o mesmo local onde eu estava caído.  Meu corpo dobrado, embora magro, lhe serviu de colchão e suavizou sua queda (sinceramente, não senti o seu peso). Uma queda que, noutras circunstâncias, poderia ter sido fatal para o seu bebê.  "Viva!  Salvamo-lo!"

Ela agradeceu muito a Deus por eu estar ali.  Embora machucado e ainda tentando estancar o sangue do supercílio, eu também agradeci.  Meu coincidente sonho (mais pesadelo) da noite anterior estava confirmado, porém sem me deixar tão seriamente mutilado.

Com o leve acidente, que agora considero inseparável do meu sonho, aprendi a aceitar e conviver muito bem com a diminuta cicatriz facial adquirida.

"Gracias a la vida".


   
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 27/04/2014
Alterado em 29/04/2014


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