COPA, NÃO!... CEM ANOS DE SOLIDÃO.
No primeiro vagão do metrô – não era momento de pico –, uma linda garota senta-se bem à minha frente. Cruza as pernas e, sobre a coxa direita, apoia um volumoso compêndio de assuntos jurídicos. Acredito que sim, porque na metade da capa está impressa a sigla “OAB”. Abre-o aleatoriamente: pesos iguais em cada banda. Aí, mete a mão na bolsa e arranca o celular. Apoia-o no livro aberto e inicia uma sessão de jogos que lhe roubam uns quinze minutos de leitura.
Para de jogar. Ufa, agora ela vai ler!... – pensei. Qual nada! Dedilha o número do celular de uma colega e começa a falar mal da Copa e de algum professor de sua faculdade. Conversação de cinco minutos, repleta da interjeição “OIA”. Interjeição?!... A que classe de palavras pertence mesmo essa coisa que não consta dos principais dicionários brasileiros?... Finalmente, sua estação de destino. Fecha o livro (não leu uma única palavra) e encerra a comunicação com a sua interlocutora: “OIA, TÔ CHEGANO AGORA! DEPOIS NÓS SE FALA”... É verdade: PRECISAMOS INVESTIR MAIS EM EDUCAÇÃO. No mesmo dia, um tanto sedento, entro numa lanchonete. Peço água. Senta-se ao meu lado (naqueles banquinhos redondos do balcão, que nunca se quebram) um garoto que pesa, no mínimo, cento e vinte quilos. Ofegante, também reclama da Copa tomando duas garrafas de certo refrigerante e degustando um monte de frituras... Lento suicídio. Fazer o quê?... Também é verdade: PRECISAMOS INVESTIR MAIS EM SAÚDE. Ambos, como vimos, falam mal da Copa. Eu até concordaria com seus reles argumentos, desde que eles, primeiramente, resolvessem os seus próprios problemas de Educação e Saúde. Mas, tenho uma ideia: Considerando os reclamos que vimos escutando – com uma inverdade inventada a cada dia que passa –, eliminaríamos as lamuriosas carências do nosso País através da supressão, por decreto, de todas e quaisquer festas nacionais, tais como: Sete de Setembro, Natal, Carnaval, Festas Juninas, eleições, Dia das Crianças, Dia das Mães, shows e todo evento cultural e esportivo que gere emoções. Seres humanos aparentemente normais parecem não mais carecer desses indispensáveis ingredientes vitais: a emoção, a vibração, o grito de "gol" universal, o sonho... "Somos matéria de sonhos" (Sheakspeare). Com essa sugerida abstinência do prazer – que falem os analistas competentes – estaríamos trocando nossos problemas sócio-econômico-financeiros por inevitáveis problemas psicossociais. Simples assim, o que vai resultar: Desânimo da razão, incompreensão, pessimismo, derrotismo, revolta, loucura e sepultura, pelo menos, em CEM ANOS DE SOLIDÃO. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 20/05/2014
Alterado em 22/05/2014 |