O SENTIDO LÓGICO DE INDEPENDÊNCIA
Eia, caro cronista! Estive nesse colégio na época a que você se reporta: final da década de sessenta. Sou testemunha do "com que roupa eu vou" da garotada se preparando para o desfile de Sete de Setembro. Também convivi com figuras como Ze Dudu e Cabo Totô, dos quais éramos DEPENDENTES na organização e apresentação da grande festa. Não sei se era um tempo de romantismo ou de ingenuidade. Só sei que esse tempo me traz enorme saudade. Realmente, poucos sabiam do significado histórico da expressão "Independência ou Morte". Lembro que levei-a à sala de aula (matemática). Coragem. Ilustrei que numa equação do segundo grau (aquela que tem duas raízes), em não havendo o termo INDEPENDENTE (independente por estar desacompanhado da incógnita "x"), uma das raízes MORRERIA (seria zero). Assim: ax² + bx + c = 0 Forma geral de uma equação do segundo grau, em que a, b, c são números conhecidos e "x" é o número desconhecido que procuramos (ou incógnita). Na equação, veja que "c" é um termo INDEPENDENTE (isto é, não está atrelado à incógnita x). Por ser do segundo grau, a equação acima admite duas raízes (x´ e x"), que poderão ser iguais ou diferentes uma da outra. Tomemos o exemplo: 1x² - 3x + 0 = 0 em que a = 1; b = -3 e c = 0. Aí, a equação fica assim: x² - 3x = 0 ou x(x -3) = 0. Ora, o produto dos fatores x e (x-3) é zero, logo, desenvolvendo, as raízes são: x´ = 0 e x" = 3. Conclusão: toda vez que o termo independente (c) é zero, uma das raízes da equação (x´) também é zero. Ser zero significa ser nulo, inexistente, morto... Então, ser independente é ter valor significativo e saber valorizar o outro; ser diferente de zero; estar presente; não se anular; existir num sistema em equilíbrio... Esse exemplo de INDEPENDÊNCIA passei também para minha filha (sua primeira sobrinha) - RAÏSSA -, que aprendeu a não ser indiferente nos julgamentos, nem se atrelar às incógnitas nos relacionamentos, mas ser livre para dar vida e liberdade ao outro: pessoas, animais e coisas em torno dela, por mais insignificantes que pareçam. Ah! Ontem ela me deu um presente: um punhado de sementes de mamão, sugerindo que eu as plantasse, cuidasse e acompanhasse o seu desenvolvimento, pelo menos até que se tornem árvores frutíferas independentes. Acrescentou que, se não se anularem (se não morrerem), inda irão alimentar muitas gerações... Com as sementes empacotadas em aparentes fraldas, rememorei a imagem do que foi aquela criatura em minhas (nossas) mãos em sua tenra idade, ainda dependente. Tornou-se semeadora e, hoje, cuida bem dos abençoados frutos do seu pomar. Orgulha-se do nome que lhe demos, inspirado na romena Raïssa Maritain, que, refugiada em Paris, escreveu "As Grandes Amizades" para toda a humanidade. Li essa obra, ainda solteiro. Lemos. Guardo-a zelosamente. Meu desejo é que as páginas da vida de nossa querida Raïssa contenham sempre registros de suas grandes e verdadeiras amizades. Ela se orgulha de nós, que a criamos e a educamos. E, do tio Damião, o carinho e o orgulho - claro! - são merecidamente crônicos. Abracemo-nos, pois, no Grande Dia Sete de Setembro, para homenagear a grande mulher que ela é. Grato pela memória curta que você não tem. _______________________________________________________________ Para o texto: À memória curta: somos independentes... (T4947665)
_______________________________________________________________De: Damião Ramos Cavalcanti (www.recantodasletras.com.br) Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 08/09/2014
Alterado em 23/02/2018 |