OBRIGADO, SOLEMAR, POR ME ABRAÇAR
Você, Solemar, é uma das poucas provas de que tenho um amigo, faz tempo! Amigo na fé, contemporâneo, conterrâneo, espontâneo... Não se assuste, mas ás vezes, me vem à mente matar esse tempo pra um recomeçar, mas logo descubro que ele não é somente nosso. É universal, ilimitado, imortal... Simplesmente rasgar calendário, parar o relógio ou quebrar a ampulheta, não vale a pena, porque esse tempo permanecerá vivo. Sei, esse meu pensar homicida é tolo, surrealista e sobretudo atemporal. Doutras vezes, tentarei, em vez de matar, eternizar todo esse nosso viver, o real, dentro de um único sonho, mesmo que seja o do meu inesperado último sono. . . . Vem-me, noutra circunstância, a vontade ou insistência de imitar o compasso uníssono e cansativo desse tempo... Mais uma desistência. O máximo que consegui até agora foi ouvir dentro de mim o tique taque do coração lembrando-me o pulsar do sangue ou dos inumeráveis segundos de minha existência: tique, taque; ora sim, ora não; ora apressado, ora em descanso; hora aproveitada, hora desperdiçada; hora ociosa, hora trabalhada... . . . Convenci-me, por fim, de que não passo de reles e silente grão aprisionado num dos vasos dessa enorme ampulheta de vidro aparente. Aprendi, destarte (e me alegro, e me conformo), que apenas faço parte daquele montinho de areia movediça, amorfo, enclausurado, que, como se fosse uma draga (e se eu der moleza), logo me arrasta, me sufoca e me traga. Saga de areia movediça esmaga. . . . Até, se preciso for, inventarei orações para pedir ao meu Senhor pra permanecer aqui, quietinho, só por mais um tempinho, rezando, louvando, neste inquebrável vaso superior. . . . Outra possibilidade de eu ficar por aqui um pouco mais é juntar-me a outros finíssimos grãos dessa areia que me envolve. Uma vez colados, poderemos reagir e resistir, crentes, por exemplo, de que na estreita passagem daquele instrumento vitral temporal só deslizarão, um a um, os pobres grãos que se encontram em voluntária solidão. . . . Sequer pensarei no adágio "de grão em grão..., todos passarão" ! . . . Prefiro o "Penso, logo existo" - e não pararei de pensar - ou, confirmando minha intenção, o "Somos porque pensamos", também descartiano, ou o "Somos porque agimos (e reagimos)", de Blondel, ou o "Somos matéria de nossos sonhos" sheakspeariano... . . . Mas os que se ajuntam, solidários, em forma de bolão de açúcar, são finíssimos grãos amigos que não querem que a galera se desfaça no momento em que todos se encontram em plena lucidez. Não aceitam que, qualquer um desses grãos, seja arrastado, sozinho e sem clemência, com desnecessária antecedência! . . . Pergunto, afinal, até quando devo eu seguir caminhando sobre esse areal movediço natural? Ora, se cheguei até a idade de agora é porque tenho esses grãos fortes e bondosos perto de mim, úmidos, a me segurar. Eles fazem questão de não me deixar ir embora por essa espécie de dreno indesejável, assim, ainda consciente, sem mais nem menos. Mas, inobstante essa prova de vida e de amizade, o que mais me assusta é que, faz poucos dias, este nosso vaso superior estava cheio e agora o vejo cada vez mais vazio. Caramba!... Quantos grãos já se foram? Quantos anos já se vão?... Que dia e hora estão marcados pra minha passagem? Quando é mesmo que vai ser o meu último agora?... Estou por um fio, é verdade!... Que se juntem a mim todos os meus amigos, os ainda vivos do meu tempo de mocidade! Necessitamos de um enorme e demorado abraço, como que em forma de tufo de algodão doce. Só assim não escorregaremos para o outro vaso... . . . Coisa maluca, poxa!... Ah, se assim fosse!... Esquecemos de que, quando não sobrar mais grãos, a ampulheta vai mudar de posição! E agora?!... . . . Agora é esperar os sinais luminosos da última chamada, assim felizes, confortados e abraçados, como quem prepara o "check-in" de uma longa viagem e só se despede, um de cada vez, quando a última das luzinhas estiver enfim apagada. . . . O bom de tudo é que inda é gostoso aniversariar, com tantas luzes acendendo ainda nossas almas... Obrigado, iluminado amigo Solemar, por me abraçar! _____________________________________________ Soneto Para Um Amigo A vida é feita de vários momentos: É alegria dores são fragmentos De flores frutos alguns espinhos Que encontramos pelos caminhos. São ações palavras pensamentos. Decepções vitórias acontecimentos. Amigos que nos enchem de carinho Provando que ninguém está sozinho Mesmo distante nos trazem alento Sem falsas palavras e julgamentos Livrando-nos de alguns desalinhos E ouvindo todos nossos lamentos Sem cobranças e pré-julgamentos Transformam vinagres em vinhos! Felicidades meu amigo Abraços Dorinha Araújo ___________________________________________________ Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 31/05/2016
Alterado em 07/01/2017 |