SÃO LONGUINHO TÁ ME DEVENDO UMA!...
Posso perder o que quiser, minha secretária tudo acha. Quando me vê abrindo e fechando portas de armários, puxando e empurrando todas as gavetas à minha frente, rebuscando bolsos de roupas em uso ou guardadas, bolsas velhas empoeiradas (...), ela já se oferece: - “Posso procurar?” - Claro, dona Lourdes – respondo com ar de satisfação, mas me sentindo, intimamente, um ceguinho frustrado e incompetente pra missão desse tipo. - “Tá aqui, o senhor olhou mesmo nesta gaveta?!...“ - Já, dona Lourdes!!!... Pois eu lhe juro que revirei tudo e nada vi. A senhora parece ter olho de lince... - “Qual nada, patrão! Eu acho tudo na hora, é só pedir a São Longuinho!”. - São Lo-gui-nho? - É não, patrão! É São Longuinho, mesmo... Melhor não brincar, que é pra ele não lhe castigar!... Pior é que ele me castigou, quando imaginei e resolvi fazer uma brincadeira para testar a destreza de dona Lourdes... Assim: - Dona Lourdes, não sei mesmo onde guardei exatos trezentos dólares... – disse, com cara de assustado, já lhe oferecendo uma compensação: “Se a senhora achar, dou-lhe a metade”. Ora, metade de quê, se eu não tinha na realidade nenhuma cédula de qualquer moeda estrangeira... Depois que ela pôs a refeição na mesa, danou-se a procurar. A cada ringir de gaveta eu me divertia, covardemente. Dessa vez ficaria garantido que ela ia perder a fé nesse santo inventado. É..., mas eu ainda estava na metade do almoço, quando ela me pergunta: - “Patrão, quanto valem trezentos dólares em real?” Respondi-lhe inocentemente, mas com fidelidade, para que ela se empenhasse mais ainda na procura: - “Trezentos dólares valem, hoje, cerca de mil reais” – assegurei. Aí, ela dá DEZ PULINHOS de felicidade, gritando: “Achei, achei!... Exatamente mil reais. Achei!... Estava na sua carteira, patrão”. E foi logo retirando a sua parte. - Tá vendo aí, São Longuinho? Você agora tá me devendo essa!... Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 27/11/2016
Alterado em 11/12/2016 |