NO VENTRE DA NOITE, UM NOVO DIA
É como se dois amantes se entrelaçassem no plano horizontal de um pequeno planeta: seus únicos moradores. Na escuridão, mãos acariciam montes macios. A alvura descoberta é o tecido areolar do outro. O desejo de um é o corpo e a alma do outro. O arfar: as batidas ouvidas no coração do outro. O prazer sentido, justo o núcleo celular do outro. Oxigênio se hidratando no seu par hidrogenado. Enfim, desvendados, veem-se na mesma nudez, beleza egressa da mais pura castidade, mutuamente tocada pelo ansiado natural desejo. Juntam-se, então, em santidade, os dois polos geradores duma energia nascente, incandescente: o polo que provoca e o que consente. Nessa junção, faz-se a luz, como se faz o amor: energia provinda de um choque sanguíneo, do semear masculino no fértil terreno femíneo. É assim que as partes íntimas da noite, em orgasmo, acolhem o raio perpendicular de um novo dia, cujo acme é a ejaculação do belo na poesia. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 19/04/2017
Alterado em 19/04/2017 |