Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

LIÇÕES DE ITAMBÉ (PE), PONTO DE PARTIDA PARA UM NOBEL (02)

 
 
Pequeno município da zona canavieira pernambucana (Microrregião Mata Norte), vizinho aos lugarejos paraibanos de Pedras de Fogo e Juripiranga, Itambé a muitos surpreendeu nas duas últimas décadas.  Com cerca de 36.500 habitantes, distribuídos numa área de 304,38 km² (IBGE) e com um PIB per capta anual de R$ 6.477,27 (IBGE/2012), grande parte da população ativa masculina dependeu, exclusivamente, do salário-mínimo recebido durante a safra da cana de açúcar, no período setembro/fevereiro dos muitos anos de moenda.  Nos outros seis meses, férias compulsórias não remuneradas e sofrimento.  Uma situação que vai se tornando cada vez mais precária na medida em que os engenhos, quando não param de operar, modernizam seus instrumentos de trabalho, o que significa, num caso ou noutro, redução no quantitativo da mão de obra braçal.

Ainda bem que os bons empreendedores sempre acordam na hora certa e com uma bem-vinda ideia.  Aconteceu um daqueles insights que, por certo, não passavam pela cabeça de nenhum outro itambeense.  Mércia Moura entendeu ser melhor largar o seu curso de desenho industrial para se casar e morar no engenho Bangauá, da pequena Itambé.  Mesmo sem conhecer o ofício da costura, pouco a pouco foi se interessando e interagindo com outros profissionais do ramo, chegando à ousadia de transformar a casa grande, e até a cocheira dos burros daquele engenho, numa fábrica de confecções, fundando-a com o nome de Empresa de Confecções “Marie Mercié”.  Aprendeu e cresceu.  Hoje, além de miçangas e estampas, produz roupas finas destinadas ao público classe “A”.  Abriu loja em São Paulo, para facilitar a entrega de seus produtos a inúmeros revendedores daquele mercado, além de manter parceria com a requintada empresa de Constanza Pascolato.  Mais recentemente, junto com Márcia Moura, abriu lojas no Shopping Rio-Mar e no Shopping Center Recife, com pretensões de expandir a empresa a nível nacional, via frinshising.  Mas, o que mais a dignifica são os benefícios propiciados à cidade e seu povo.  Emprega, no momento, cerca de 300 pessoas em sua fábrica – devidamente treinadas -, inclusive 110 do sexo masculino que, rompendo preconceitos, e por serem mais bem pagos, trocaram o corte da cana pelo corte de tecidos, o facão pela agulha, o plantio, soca e ressoca da cana, ou o roçado, pelo bordado.
    

A outra surpresa é igual ou ainda mais emocionante.  Um professor da mesma cidadezinha, Itambé – Jayse Antônio Ferreira –, que leciona artes, conseguiu destacar-se, junto ao MEC, como o melhor do País em 2014, na categoria ensino médio, entre 6.808 concorrentes.  Aliás, obteve dupla premiação, pela ventura de o seu projeto também sobressair-se como o melhor da categoria.  Intitulado “EU SOU UMA OBRA DE ARTE: ETNIAS DO MUNDO”, o projeto teve como premissa importante a constatação de que os alunos tinham baixa autoestima devido às suas imutáveis características físicas.  O professor Jayse iniciou uma pesquisa com os estudantes a respeito das etnias a que eles pertenciam, de que resultou o estudo das características biológicas de vinte povos definidos.  Em seguida, partiu para a escolha de vinte adolescentes que pudessem representá-los.  Estes foram artisticamente fotografados, maquiados e caracterizados com indumentárias pertinentes aos povos representados.  Evidenciou-se o voluntariado - inclusive dos trabalhos fotográficos e de maquiagem -, que envolveu, solidariamente, professores, pais de alunos, pequenos comerciantes locais e – por que não? – os costureiros e costureiras da “Marie Mercié”. 

Autoestima elevada, todos os itambeenses agora esbanjam alegria por haverem mergulhado fundo no estudo e assimilação de suas origens.

Enfim, tão orgulhosos quanto os que já vivenciaram eras sombrias nesses rincões outrora incultos e ocultos de nosso País, estão todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para essa vitória um tanto arduamente conquistada.   Ponto de partida, sim, mais que ponto de chegada. 
                                                                    
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Fonte consultada:
Jornal do Commercio/Recife, edições de 21/09/2014 e 13/12/2014.
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A Globo News divulgou o trabalho do professor Jayse Antônio Ferreira em março/2018 - ESPECIAIS.
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27/03/2018 16:57 - Orpheu Leal
Dois fatos inéditos, acontecidos numa pequena cidade de Pernambuco, ITAMBÉ! O professor Jayse Antônio Ferreira, classificando-se em primeiro lugar, junto ao MEC, como o melhor professor do país em 2014! Outro fato inédito, foi o do seu trabalho "EU SOU UMA OBRA DE ARTE: ETNIAS DO MUNDO". E Itambé não para por aí, com a inauguração da Empresa de Confecções "Marie Mercier", da empresária Márcia Moura. Pessoas assim, inteligentes e dinâmicas, que engrandecem o país. Parabéns, Fernando A Freire, pelo brilhante Artigo. Grande abraço.
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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 22/03/2018
Alterado em 28/03/2018


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