UM SALTO NO ESCURO
(Sobre as recentes descobertas de mortos não descobertos. Publicado neste Recanto das Letras, em 05/12/2013) Mãos para trás, pulsos apertados em algemas de gesso. Frio estomacal, qual paraquedista neófito. . . . Impelido sem oferecer resistência, flutuei no ar. Torturante giro no escurejar das trevas. . . . Enfim, sós ! Eu, em descenso na vertical, e o meu algoz, que seguiu planeando na horizontal. Formaram uma cruz nossas coordenadas. . . . Ninguém escutou meu derradeiro grito, disperso no silêncio do infinito: . . .“Independência ou Morte ! . . .” . . . Morte? Indolência. . . Languidez. . . Talvez ! . . . Corpo e alma na última descida da vida. . . . Foi o meu pensar no ligeiro instante antes do mergulhar profundo num ondeado e gélido mar bravio. . . . A escuridão das águas, a mesma do noturno céu nublado, a mesma dos pensares militares, subordinados. . . . Imaginei-me sobrenadando em lágrimas derramadas de tantas mães e irmãos em esperas vãs. . . . Por certo, meu corpo leve, a uma peso atado, não ousou vaguear nas vagas do mar revolto. . . . Fato consumado ? ! . . . Virei marisco, que ainda agoniza entre a rebentação das ondas e a resistência da pedra: eterno embate ideológico de forças antagônicas. Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 15/05/2018
Alterado em 31/03/2019 |