Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

PRETA, TRÊS ANOS DE ENCANTO EM NOSSAS VIDAS


"Talvez um dia todos nós, amigos, iremos nos separar. Sentimos saudade de todas as conversas jogadas fora, dos sonhos que tivemos.  Os dias vão passar, meses, anos, até esse contato se tornar cada vez mais raro.  Um dia nossos filhos verão aquelas fotos e perguntarão: Quem são essas pessoas?  Saudade vai bater e com os olhos cheios de lágrimas, diremos: Foi com eles que vivi os bons momentos de minha vida". / Solemar, 14/08/2018.
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Meu dileto amigo e irmão, muito obrigado pela mensagem que você me envia no exato momento em que me dói uma enorme perda.  Às vezes, sei, é com a perda que a gente descobre quão maior era o amor devotado à criatura que parte.  Não, não era afeição simplesmente. As lágrimas nos dizem que é amor de verdade...
Partiu a "Preta", a cadela, ou xodó da família, que viveu somente três anos entre nós.   
Acabo de receber essa notícia, que muito me abalou. "Preta" foi a mais fiel de minhas amigas. Criava-a minha filha, num condomínio em Casa Forte, Recife. Todos agora choram.  Meus netos, inconformados, ainda não compreendem. Acham que a morte é um acontecimento temporário; uma viagem com possibilidade de retorno... Conversaremos, claro, quando não mais houver resquícios desta dor que nos emudece. 
Uma amiga que me abraçava, quando eu lá chegava.  De raça Labrador, enorme, as patas traseiras sustentavam o seu corpanzil, enquanto as dianteiras buscavam minha clavícula. Claro que, a fim de evitar danos em minha camisa, eu me agarrava às suas garras em tempo.  Depois do abraço simbólico, corria para pegar com os dentes uma bola (quase de futebol), convidando-me a brincar com ela. Horas e horas de exercício.  Pra mim, um bate-bola cansativo. Pra ela, devido ao seu tipo físico, um Futebol Americano sem linha de fundo, sem tempo definido.
Fazia questão de dormir ao meu lado, no chão, como que tomando conta de um irmão indefeso. Se eu acordava, ela acordava.  Se eu dormia, ela fazia de conta que dormia.
Faleceu ontem, no dia dos Pais.  Acho que até certo ponto me considerava pai.  Teve um mal-estar repentino, enquanto caminhava.  Seu dia e sua agonia terminou exatamente à meia-noite de ontem num hospital veterinário.  Seu nome tomou a cor de seus pelos brilhantes: PRETA. A enorme cadelinha adotada por sua afilhada, meu caro Solemar. 
Para a gente que amou e conviveu com ela, fica difícil chamá-la de cadela ou cadelinha. É porque ela conversava mesmo com a gente, mexendo com a cauda, olhando para os nossos olhos, latindo, grunhindo, correndo, pulando, obedecendo aos nossos gestos...
Vejo, hoje, que ela foi brincar no paraíso, minha fidelíssima amiga cuja coleira vai puxar minha saudade a vida inteira.
Obrigado, meu irmão!  Sua mensagem chegou na hora exata em que eu mais precisava.  Todos da minha família, emocionados, também agradecem. Daremos a ela um enterro digno.  Seu corpo será trasladado para um sítio de minha outra filha, Ana, em Aldeia, distrito de Camaragibe, cidade vizinha de Recife, onde será sepultado. Por causa do amor consagrado a "Preta", às vezes pensamos que animais têm um pouco de gente e pelo menos um tantinho de alma.  Queira Deus!...
"O amor é isso"... Nem precisa ser um parente da gente. Basta que tenha correspondido ao nosso amor. É ganho. É aceitação da perda. É interação. É recompensa.  É compromisso.  É devoção...  Grande abraço, meu irmão.
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 23/08/2018
Alterado em 18/09/2018


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