Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

FUTEBOL FEMININO: Ah, se elas jogassem peladas!



Não, não é insinuação!... Pelada é uma disputa recreativa entre amigos - no futebol ou em qualquer outro esporte -, em que as regras, em geral, são decididas na hora e quase sempre são injustas e desrespeitadas.

Homens, mulheres (inclusive grávidas), crianças, idosos, deficientes (físicos ou mentais) podem jogar, sem técnico e sem técnica, sem goleiro e sem gandula, sem juiz e sem bandeirinha, de andajá (andador de bebê) ou de muletas, sem faltas e sem impedimentos, todos juntos no ataque, todos juntos na defesa. Nem precisa onze de cada lado. Prima-se pela desigualdade mesmo. A única igualdade existente é que, em condições normais, todos são pernas de pau.  O tempo marcado para acabar o jogo é contado a partir do primeiro "ai" ou de um esperado esgotamento (físico) coletivo.  Portanto, nada de discriminação contra as mulheres que concordam ou que discordam do “laissez-faire” das regras.  Desde que convidadas, elas podem e devem jogar peladas.

Essa frouxidão esportiva não existe quando o jogo acontece num estádio lotado, num campeonato ou numa copa.  Aí, acaba a brincadeira e a coisa, sendo oficial, assume o tom de absoluta seriedade.  É quando entram em campo os respeitáveis senhores juízes, conhecedores das normas, autoritários e, sobretudo, imparciais. Eles sabem que se forem parciais a galera grita logo: "Juiz ladrão, juiz ladrão!"...  (além da ensurdecedora ofensa às suas pobres mãezinhas).  Mesmo que queiram, não esboçam nenhuma euforia ou tristeza por cada gol por eles validado.

Aproveito o intervalo deste jogo (de palavras) para emitir juízo acerca do belo-horrível  - peculiar, porém separável - do futebol, conforme o gênero do atleta.  Melhor que eu vá direto ao assunto.

"Confesso-me apaixonado pelo futebol feminino. Desde que me entendo de gente, admiro sua leveza, sua manha, sua destreza, sua sutileza, sua beleza . . .
e descarto sua fragilidade”.

 
Sabe por quê?


Futebol masculino é naturalmente um esporte grosseiro e deseducado, nada obstante o seu rico patrocínio, na maioria dos casos.  O chute bem que deveria ser somente na bola ! . . .  Na hora da disputa, os contendores viram pernas de pau no sentido estrito da palavra, inda correm pro juiz pra dizer que não foi nada.  A raça está na máscara.

Mas, vamos limpar a vista com o que é belo.
Nada como ver as meninas entrando em campo.  Esportivamente, o futebol parece tomar outra dimensão.  Admiro e bato palmas para um verdadeiro balé.
Pé com pé. Um “pas de deux” que merece ser exibido sobre um enorme tapete esverdeado, nunca em chão gramado, esburacado e de grama amarelada. 

 O campo simplesmente gramado, como o é hoje em dia, parece ser destinado ao pisoteio e alimentação de animais semoventes domesticados, ou mero colchão para suavizar a queda simulada dos atletas cai-cai.
 
As meninas  -  vê-se logo a diferença  -  entram em campo maquiadas, de cabelos coloridos, amarrados, ou deixando o vento balançar suas longas tranças e "rabos de cavalo".  Diferentemente do homem,
a raça está na graça.

 
Que falta faz o tablado ! . . .


Mesmo com o campo assim, elas entram  sorrindo, bailando, se requebrando e imitando o rebolar da bola.
Coitadas, não sei como conseguem ser tão delicadas com aquelas horrorosas chuteiras pesadas!...  Dá-me vontade de furar o cerco policial, chegar lá, ajoelhar-me aos pés de cada uma e... trocar aqueles sapatões pesados por sapatilhas leves e sem travas. 
Aí, sim, futebol seria mais charmoso e maravilhoso ! . . . Ainda que fosse mais caro, valeria o ingresso.


Você já viu algum jogador entrar em campo sorrindo? Particularmente, digo que nunca vi. Mas de salto alto       - hum!... -, quase todos.

Melhor voltar a falar das mulheres, porque o gol feito por elas pode ser mais bonito, conforme o aceno da cabeça, ou a matada na coxa, ou a mexida no quadril...

Elegantes e sempre sorridentes - que é pra dissimular o franzir de testas nas corridas - correm de verdade, como se brincassem infantilmente de pega-pega, ou de pique-pega, mas com todo cuidado pra não quebrar as unhas.  Se isso acontecer, sabem que a mamãe vai ralhar:


- "Que diabo de jogo você anda jogando por aí, hein?!"... 

Seus dribles são verdadeiros giros na ponta dos pés, como se flutuassem em sensual "rodopio" num palco de balé.  Tá vendo, como faz falta o tablado?!...
Sabem que a torcida está ali para aplaudir
o seu show, o seu balé, as suas manhas e artimanhas.  E até se julgam obviamente lindas - e se amostram quando dão a bola para a parceira. 
 

Há mulheres que gostam e sabem dar bola. E é dando bola com sabedoria que elas encontram o caminho do êxtase: o gol.

Feito o gol, vem a comemoração: abraços apertados, prolongados, e beijos manchados de batom.  Mas os seus coques de cabelo continuam incrivelmente impecáveis e vaidosamente arrumados.

Por falar nisso,  já observaram os penteados modernos da moda futebolístico-masculina?... Já vi, sim, pichaim oxigenado, puxando horrivel e germanicamente para o aloirado...  Já vi caminhos de rato, não de touca mas de toca...  Às vezes são tão esdrúxulos que me levam a crer que esse tal jogador perdeu a cabeça!
Acho que tudo começou com o corte de cabelo usado por Ronaldo Fenômeno, na Copa de 1998, naquele vergonhoso três a zero perdido para a França!...
Sofri.  Quem sofre, se lembra.  Que falta fizeram as meninas naquela copa!...

 Nada de superstição, mas na cabeça do nosso Fenômeno estava desenhado um cabeludo triângulo.  Fora o triângulo, nem mais um fio. E quando desconfio vem logo a danada da superstição!...

Ora, o que é um triângulo?... Triângulo é um polígono com três arestas, três vértices e três ângulos internos. 
O resultado do jogo, portanto, Ronaldo Fenômeno já entrou com ele em campo, traçado na cabeça. 

Não deu outra: três a zero..., também máquina zero passada na cabeça.  
Fosse eu o técnico, Ronaldo teria ficado impedido de jogar nesse dia...
É bom lembrar que impedimento de técnico é diferente de impedimento apitado pelo juiz.
Cá pra nós, 
eu adoro quando as meninas ficam em impedimento.

Impedimento, qual nada!...

Prefiro a moda antiga, em que impedimento se chamava "banheira". 
Então, eu adoro vê-las na  banheira...
Esclareço: "impedimento" só em jogo oficial.  "Banheira" é quando se joga pelada ! . . . 

Só não sei se está tudo devidamente explicado.

Uma das coisas que também acho importante destacar no futebol feminino é a técnica e a beleza com que matam a bola, recebida do alto e com efeito.  
Com efeito, a matada é suavemente feita nas coxas ou no peito... Ah, que beleza de matada, hein!...


No homem, isso é feito com estupidez. Na mulher, na mulher... óbvio, na mulher tudo é maciez ! . . . 

Só que, numa dessas "matadas", quem tocar a bola com a mão, recebe do juiz um cartão. 

Aí, se flagrado, o homem nega, chora, pede perdão, porque sabe que será expulso se pegar uma segunda punição.

Mas a mulher, não!  Mulher adora e faz questão de receber cartão, seja de débito ou de crédito. Faz logo a segunda falta, recebe o segundo cartão e sai de campo na hora, segundo as regras. Sai  em busca da primeira loja cujos vestidos ou sapatos estejam na moda e em promoção.

Pior é que as outras também adoram cartão!... E haja falta!...  E haja mão!...  A técnica que se vire, depois, sem poder fazer mais substituição...

Mas, o que mais me chama a atenção, mesmo, é a vibração do homem quando faz um gol. Também vibro. Ele tira a camisa pra comemorar e dá uma volta olímpica com a camisa na mão, a rodar...

Quando é que nossas jogadoras o vão imitar?!...

Será mais uma exibição do belo, com o juiz correndo atrás delas, mostrando o cartão amarelo.  Alegará que  estão sendo punidas pela falta de respeito. Sinceramente, sem o "res", eu diria excesso de... 

Sei que juiz nenhum tem pique para correr por muito tempo atrás de uma mulher, atleta e jogadora.  Precisam se render e se convencer de que elas são, de fato, incansáveis.  Está na cara!... 

Homens,  seja juiz, jogador ou quem mais for, ávidos, jogam os noventa minutos e descansam.

Mulheres, nem precisam ser jogadoras, só descansam, se grávidas, depois de nove meses, às vezes.

Deixo  aqui minha sugestão à CBF:

Por favor, presidente, olhe com mais carinho para o futebol inocente dessas meninas e, até se possível, altere as regras em função de suas sinuosas compleições. Pra começar, dispense-as de punições com cartões. Arranje um jeito mais barato de apontar suas faltas...
 
Aí, um torcedor solteiro que leu este texto arremata:


"Meu Deus, como a mulher faz falta!"...
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 19/07/2019
Alterado em 23/07/2020


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