Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

OS FILHOS DO MITO



Gilberto Freyre denunciou a maneira como os valores do sadomasoquismo social são transmitidos de pai pra filho através de engenhosos mecanismos da "educação". 
Pior:  um sadomasoquismo (ter prazer com o sofrimento alheio) que, modernamente, é repassado, via redes sociais, dos ditadores para os seus seguidores fanatizados.

O leitor logo verá a quem ou a qual grupamento eu me refiro.

A título de ilustração - para facilitar a comparação -, descrevo, a seguir, uma das citações de Machado de Assis, muitas vezes utilizada por Gilberto Freyre, Josué de Castro e Jessé de Sousa em suas obras voltadas para a sociologia e para o social:

 
"(...) um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher de doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinzas ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer a minha mãe que a escrava é que estragara o doce: "pura pirraça";  e eu tinha apenas seis anos... 
...Prudêncio, um moleque da casa, era o meu cavalo de todos os dias;  punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freios, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava-lhe mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia - algumas vezes gemendo -, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito um - ai, nhonhô -, ao que eu retorquia: - "Cala a boca, besta!".
Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscão nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração;
e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos
".
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Uma história parecida:
Um filho do presidente, no início do governo, descarregou o seu ódio à democracia ao dizer, numa palestra, que "Para fechar o STF bastam um cabo e dois soldados".
Não demorou muito e o pai, para premiar o espírito robusto do filho, ofereceu-lhe o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos (
A falta de apoio político o obrigou a desistir dessa infeliz e desastrada intenção).
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Analisemos mais:
- a verticalidade do mandonismo
(quem estiver abaixo de mim é pra me servir);
- o machismo e o patriarcalismo
(sementes culturais que ainda germinam na política e nos grandes latifúndios brasileiros);
- o autoritarismo
(com uso de palavrões ou exclamações imperativas, tipo:
- CALE A BOCA!...
- QUEM MANDA SOU EU!...
- A CANETA ESTÁ NA MINHA MÃO!...
- A CONSTITUIÇÃO SOU EU!...
- MINISTRO MEU TEM QUE CUMPRIR AS MINHAS ORDENS!...
- SE ESTÃO MORRENDO, POUCO IMPORTA!...  UM DIA TODOS VÃO MORRER MESMO!...
- E O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?!...
- SOU MESSIAS, MAS NÃO FAÇO MILAGRES!...
além de muitas outras sandices ou esquisitices que os filhos aprendem e o pai não os repreende).

Filhos de gato, gatinhos são, ou melhor:  pra ocupar cargos mais notáveis, só meus gatinhos são confiáveis.

E para a manada (ou ninhada de bichanos), aqueles 30% que a esse "mito" ainda dão apoio, esses disparates são simples aboios ou suaves miados.

Quem não educa bem os filhos, jamais tratará bem toda uma nação.  Só agora entendi o por que o mito escolheu um sujeito tão insignificante e sem qualificação para o Ministério da Educação. "Em terra de cegos, quem tem um olho...".  Para um rei que só se preocupa com o seu ego, o importante é que em seu reino todos sejam cegos.

Pena é que, certos pais, certos filhos e a massa ignara desta sofrida nação, vão sendo atacados por uma certa miopia e, assim,  assimilando esses destemperos no dia a dia, se deturpando e se deseducando.  É exatamente essa a cegueira que eles querem e nos impõem a querer.   Até quando tanta hidroxcloroquina? . . .

                                   (fernandoafreire)

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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 16/05/2020
Alterado em 21/05/2020


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