OS FILHOS DO MITO
Gilberto Freyre denunciou a maneira como os valores do sadomasoquismo social são transmitidos de pai pra filho através de engenhosos mecanismos da "educação". Pior: um sadomasoquismo (ter prazer com o sofrimento alheio) que, modernamente, é repassado, via redes sociais, dos ditadores para os seus seguidores fanatizados. O leitor logo verá a quem ou a qual grupamento eu me refiro. A título de ilustração - para facilitar a comparação -, descrevo, a seguir, uma das citações de Machado de Assis, muitas vezes utilizada por Gilberto Freyre, Josué de Castro e Jessé de Sousa em suas obras voltadas para a sociologia e para o social: "(...) um dia quebrei a cabeça de uma escrava, porque me negara uma colher de doce de coco que estava fazendo, e, não contente com o malefício, deitei um punhado de cinzas ao tacho, e, não satisfeito da travessura, fui dizer a minha mãe que a escrava é que estragara o doce: "pura pirraça"; e eu tinha apenas seis anos...
...Prudêncio, um moleque da casa, era o meu cavalo de todos os dias; punha as mãos no chão, recebia um cordel nos queixos, à guisa de freios, eu trepava-lhe ao dorso, com uma varinha na mão, fustigava-o, dava-lhe mil voltas a um e outro lado, e ele obedecia - algumas vezes gemendo -, mas obedecia sem dizer palavra, ou, quando muito um - ai, nhonhô -, ao que eu retorquia: - "Cala a boca, besta!". Esconder os chapéus das visitas, deitar rabos de papel a pessoas graves, puxar pelo rabicho das cabeleiras, dar beliscão nos braços das matronas, e outras muitas façanhas deste jaez, eram mostras de um gênio indócil, mas devo crer que eram também expressões de um espírito robusto, porque meu pai tinha-me em grande admiração; e se às vezes me repreendia, à vista de gente, fazia-o por simples formalidade: em particular dava-me beijos". ________________________________________ Uma história parecida: Um filho do presidente, no início do governo, descarregou o seu ódio à democracia ao dizer, numa palestra, que "Para fechar o STF bastam um cabo e dois soldados". Não demorou muito e o pai, para premiar o espírito robusto do filho, ofereceu-lhe o cargo de embaixador do Brasil nos Estados Unidos (A falta de apoio político o obrigou a desistir dessa infeliz e desastrada intenção). ________________________________________ Analisemos mais: - a verticalidade do mandonismo (quem estiver abaixo de mim é pra me servir); - o machismo e o patriarcalismo (sementes culturais que ainda germinam na política e nos grandes latifúndios brasileiros); - o autoritarismo (com uso de palavrões ou exclamações imperativas, tipo: - CALE A BOCA!... - QUEM MANDA SOU EU!... - A CANETA ESTÁ NA MINHA MÃO!... - A CONSTITUIÇÃO SOU EU!... - MINISTRO MEU TEM QUE CUMPRIR AS MINHAS ORDENS!... - SE ESTÃO MORRENDO, POUCO IMPORTA!... UM DIA TODOS VÃO MORRER MESMO!... - E O QUE EU TENHO A VER COM ISSO?!... - SOU MESSIAS, MAS NÃO FAÇO MILAGRES!... além de muitas outras sandices ou esquisitices que os filhos aprendem e o pai não os repreende). Filhos de gato, gatinhos são, ou melhor: pra ocupar cargos mais notáveis, só meus gatinhos são confiáveis. E para a manada (ou ninhada de bichanos), aqueles 30% que a esse "mito" ainda dão apoio, esses disparates são simples aboios ou suaves miados. Quem não educa bem os filhos, jamais tratará bem toda uma nação. Só agora entendi o por que o mito escolheu um sujeito tão insignificante e sem qualificação para o Ministério da Educação. "Em terra de cegos, quem tem um olho...". Para um rei que só se preocupa com o seu ego, o importante é que em seu reino todos sejam cegos. Pena é que, certos pais, certos filhos e a massa ignara desta sofrida nação, vão sendo atacados por uma certa miopia e, assim, assimilando esses destemperos no dia a dia, se deturpando e se deseducando. É exatamente essa a cegueira que eles querem e nos impõem a querer. Até quando tanta hidroxcloroquina? . . . (fernandoafreire) __________________________________________________________ Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 16/05/2020
Alterado em 21/05/2020 |