MATO A COBRA E AINDA CHUPO A BALA MELADA DE SANGUE...
"Pega um pau... Pega uma pedra... A gente mata e torra na churrasqueira"... Meio metro de jararaca desmanchou a festa lá no fundo do quintal da casa de seu Lourival. Tinha uma grande mata e algum escombro e lixo envelhecido no terreno ao lado. Periferia, quase na área rural. Ali, de há muito, devia ser o caminho da bela serpente. "Parem!... Parem!... Deixem que eu cuido dela. Vai virar churrasco num instantinho!" - Gritou o dono da casa, sacando o seu revólver recém-comprado e exibindo-o com coragem - eu diria, com valentia. Tem gente que só fica valente com um revólver no coldre. - "Vou acertar mesmo no olhinho dela... e ainda chupo a bala...". Aproximou-se da peçonhenta. Ela se mecheu e - parecendo adivinhar que ia morrer -, seu corpo ficou cheio de nódulos. Aproximou-se ainda mais... Aí, simultâneo ao estampido, um: "Ai, desgraçada!"... A jararaca foi mais rápida. Picou seu Lourival exatamente no indicador esquerdo, o dedo do gatilho. A jararaca nem sabia que ele era canhoto. Acabou o churrasco. Corre-corre... Corre pro hospital... Tem que tomar um antiofidico... Não tinha soro de reserva. O médico mandou buscá-lo não sei onde. Demorou. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . Enquanto o soro não chega, segue o epílogo dessa história: - a jararaca tomou o seu caminho, rebolando tranquila como se nada tivesse acontecido; - o indicador de seu Lourival, a princípio, ficou necrosado, mas, dez dias depois, precisou ser irremediavelmente amputado; - pelo menos com a esquerda, seu Lourival nunca mais apontou, nem atirou; - a festa acabou. Nesses dias - espera-se - vai haver um leilão naquele mesmo quintal: Quem dá mais pelo revólver de seu Lourival?!... Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 03/08/2020
Alterado em 06/08/2020 |