Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

PARA OS MILITARES POLÍTICOS, NEM SEMPRE DOIS MAIS DOIS SÃO QUATRO




O organograma funcional militar se confunde com os dos reinados da Antiguidade, em que os reis decidiam até sobre o fim da vida das pessoas e não admitiam contestação.
"Palavra de rei não volta atrás".
A ordem é vertical e de cima para baixo. Cumpra-se!
Nas guerras, ou em situações semelhantes, os comandantes tinham (têm) a mesma espada dos reis. Quantos soldados morreram sem ter sabido a razão por que tiveram de fuzilar o próprio irmão!?...
Morreram, sim, como heróis disciplinados, cumpridores da ordem que veio do andar superior.  Morreram pela pátria, não raramente subordinada aos malefícios dos  interesseses econômicos e financeiros de um poder maior, quase sempre subalterna a ideologias ou posições políticas mentirosas e ditatoriais.
Respeita-se às ordens, sem análise, sem diálogo, sem sugestão e sem discussão. Diga-se melhor: Sem pensar.  "Foi o rei quem mandou fazer"...
É a palavra do "rei" - e pronto!  "Faça-se!".
No meu modo de pensar, o pensamento único só é admitido em regimes de força - ditatoriais.
A esse enfraquecimento humano de suas funções de perceber e poder debater questões "impostas", uns chamam de "disciplina", outros de "lavagem cerebral". Ninguém chega a general se não se portou como um "robô" manipulado e competentemente "disciplinado".  Era a regra nos reinados. É a regra nas corporações que renunciam ao seu poder apolítico de protetor do Estado.
Ocorreu, em 2018, de um tenente "indisciplinado" - por isso, já afastado pela corporação -, se ter alçado ao poder maior da nação pelo meio "legítimo" do voto (esqueçamos as fake news e facada simulada para fugir ao debate).  Num repente, de velho militar insubordinado a parlamentar adepto da tortura, passou a ser o comandante supremo das Forças Armadas. Querendo fazer as pazes com essa corporação (ou sinalizar um regime de força para uma população sofrida e que, até 1985, experimentara os rigores de uma longa ditadura militar), o comandante supremo rodeia-se de militares no Palácio do Planalto, escolhe (até agora) nove ministros militares para preencher vagas nos 22 ministérios vigentes e preenche (também até agora) quase nove mil cargos públicos, muito bem remunerados, com militares reformados ou da ativa, além de filho(a)s de generais.  Um compadrio oficializado, quando o país, junto com a Venezuela, enfrenta a maior crise de desemprego do planeta.
Hoje, 16/09/2020, tomou posse no Ministério da Saúde o general que, há quatro meses, exercia a interinidade daquele órgão.  Por que a interinidade?
Os dois ministros que o antecederam, civis, médicos, defensores intransigentes da ciência, não concordaram com a decisão do comandante supremo da nação (não médico) de impor o uso da cloroquina e hidroxcloroquina no tratamento do pandêmico coronavírus, mesmo sem a comprovação científica de sua eficácia, e foram afastados.  Mesmo com afirmações científicas mundiais de que o seu uso pode gerar sequelas irrecuperáveis, ou a morte do infectado.
Tortura, não, ó comandante supremo da nação!...
Para o tal comandante, a luta contra a pandemia é uma guerra - e nas guerras até as verdades científicas se tornam as primeiras vítimas. Nas guerras, a decisão (vital ou suicida) desce até os escalões inferiores e - seja mentira, seja verdade - tem que ser cumprida.  Para o comandante supremo, os dois ministros afastados foram considerados indisciplinados por acreditarem só na verdade. 
"Que morra a verdade!"...
"Ora, um dia, todos vamos morrer!" - afirmou o comandante supremo, desrespeitando então o sentimento das famílias de milhares de mortos pelo covid 19.  
Aí, assumiu a interinidade da pasta da saúde o general, não médico, não técnico no ramo da saúde
(Pasmem: premiado como ministro por ter aceitado e cumprido com distinção a condição de "marionete"!).
Assim:
Durante sua interinidade, por ser disciplinado, quintuplicou a remessa da cloroquina para os almoxarifados do SUS (Sistema Único de Saúde) em todo o país, dessa forma obrigando o seu uso indevido.  De março a julho deste ano já foram enviados 6,3 milhões de comprimidos de cloroquina, na dosagem de 150mg para os postos do SUS.  Nesse cômputo estão incluídos os fabricados em laboratórios do próprio Exército (gastos de milhões de reais ainda não comprovados) e os remetidos pelos EUA (via Trump) para desova no seu quintalzinho latino-americano.
Os estados e municípios se obrigam a receber quantidades elevadas desses comprimidos - made in Brazil ou made in USA -, mas até o momento (Jornal Folha de São Paulo, de 06/09/2020) somente o estado do Maranhão informou que os utilizará unicamente para tratar doenças indicadas na bula. Maranhão, por explicitar a verdade, passou a ser visto, pelo "rei" ou "talibã", como um estado "indisciplinado".
A lógica nos diz que milhões desses comprimidos (grande parte desse custo saído dos nossos bolsos) serão atirados nas lixeiras - mais dia, menos dia -, quando ultrapassado o prazo de validade. Ou não?!...
Pobre já está acostumado com comidas com validade vencida!...
Projete-se toda essa subserviência ministerial - que se transforma em arrogância - para os demais ministros militares.  Quantos horrores acatados, quanto genocídio, tudo cumprido com os rigores da disciplina militar, todavia saído da cabeça de um velho militar "insubordinado"?!...  Um contrassenso que o bom senso não tolera.
Igualmente, para os demais ministros, em sua maioria pastores, que - pior ainda - repassam para os fanáticos de suas igrejas que o tal comandante supremo é um enviado do seu "deus".
Talibanismo escancarado.
Lamentavelmente, ainda são muitos os que concordam com essa hipocrisia. 
Ainda bem que "a cloroquina é da direita"!...
Nem Deus a aceita!...
 

 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 16/09/2020
Alterado em 19/09/2020


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