Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

AS DITADURAS SE ETERNIZAM



A última das duas grandes ditaduras havidas no Brasil, no século XX, aparentemente terminou em 15 de março de 1985, com a posse de José Sarney (escolhido em eleição indireta como vice de Tancredo Neves).
Depois de 21 anos de ditadura - a história não é cega -, nem todas as maléficas raízes foram extirpadas. Sua continuidade, sub-reptícia, haveria de ser respaldada por alguns líderes civis (políticos) que a apoiaram em tudo, desde o começo.
Nenhuma ditadura no mundo deixou de implantar seguros pilares estruturais que a mantivessem/ /mantêm /manterão latente.
No Brasil não foi diferente. Pelo menos, dentre os civis que me recordo, continuaram, como secretos baluartes e ainda defensores daquela utopia autoritária militar, alguns políticos atuantes na época do arbítrio:
Jorge Borhousen (do clã Borhousen de Santa Catarina, clã que domina a política desde a década de 1920),
Antônio Carlos Magalhães (da Bahia), Antônio Marco Maciel (de Pernambuco, que levou em mãos o AI-5 que, dentre outros danos, obrigou ao fechamento do Congresso)... Suas ramas crescem ainda hoje com bastante viço.
Pensávamos estar exercendo a democracia quando elegemos presidente um ex-militar (afastado por razões óbvias) provindo das hostes ditatoriais, com certeza apoiado pelo clã dos pilares acima mencionados.
Decepcionamo-nos, todavia, logo que o presidente foi empossado ao ver que:
- todo o palácio ficou ocupado por militares, da ativa ou da reserva;
- nove militares foram nomeados ministros (para um total de 22 ministérios);
- levas e levas de militares passaram a ocupar cargos em importantes órgãos/agências governamentais, nada obstante o exagerado índice de desempregados no país.
Reformas, sim.  Para qualquer opositor, sempre há substanciais deficiências "a corrigir" na sociedade brasileira, por melhor que tenham funcionado os órgãos a reformar.
A ditadura militar de 1964, por exemplo, também trouxe ousadas reformas, inclusive a eliminação de muitos ramais ferroviários que interligavam nossas distanciadas regiões.  Engolimos, quietos, as razões pouco plausiveis (aqui, ali) dadas para o Brasil sair dos trilhos.
Aí, o governo antidemocrático que elegemos, além de fazer pouco da educação e cultura do país; 
além de trazer de volta a velha censura tão odiada no antigo regime militar;
além de escantear técnicos da saúde e do meio ambiente, colocando seus apaniguados...; 
completou uma reforma trabalhista e fez uma reforma previdenciária. Ambas sob promessa de reduzir o número de desempregados, todavia, resultaram traiçoeiras para os já sofridos trabalhadores, formais e informais.
Prevê-se outra reforma, a administrativa, alcançando todos os poderes (executivo, legislativo e judiciário).  Afirmo, a pior de todas, pois manterá os atuais grandes salários (acima de R$ 39 mil) sem subtrair as vantagens adicionais que os elevam a patamares acima dos R$ 150 mil.
Fazer o quê?...
Se, de fato,  estivéssemos num regime democrático, com absoluta certeza, a sociedade reagiria.
Como?
Ainda não se sabe como, porque a maioria dos policiais, civis ou militares, as forças armadas, as milícias armadas, todos, muito bem aquinhoados, são sustentáculos do armado poder absolutista que aí está. 
Reações nas ruas não se sustentarão.
Retroagimos ao "Cale-se!" do regime ditatorial e
- o que é mais doloroso - sob aplausos dos mal informados.
A montagem desse circo vem de longe, muito longe! 
                           . . . . . . . . . . . . . . .

Por falar nisso, a morte de Tiradentes foi aplaudida por centenas de brasileiros em praça pública.
"Viva o rei! Viva o vice-rei!"... Não é de admirar a coincidência desses comportamentos?!...
 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 12/10/2020
Alterado em 13/10/2020


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