Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

O ÚNICO DIA EM QUE ME EMBRIAGUEI


Fazia mais de um mês, eu me encontrava hospedado  no Hotel Regente, em Belém do Pará.  Missão sigilosa, a serviço da empresa que me separava dos meus, mas nos sustentava.
De um quinto ou sétimo andar (esqueço a altura) pude ver grupos de jovens se aglomerando no barzinho da esquina. A musiquinha gostosa justificava a onda da época. Algo me atraía...
Vesti-me de jovem e desci.
Como esperado, lá não encontrei nenhuma pessoa conhecida para um papo informal.
Lá pras tantas, aproximou-se de mim, no balcão onde pedira um drink, uma criatura linda, quase de minha idade, que encetou conversa.
Animei-me e terminei dizendo quem eu era e de onde viera.  Seria uma cigana?!... - questionei.
A certa altura da conversa, ela precisou ir ao banheiro, coisa que logo no seu retorno também fiz.
Bexiga aliviada, já acomodado no mesmo banquinho do balcão, tomei o primeiro e único trago da bebida que me serviram e que eu ali havia deixado...
Gut, gut e...
...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...   ...
Só acordei no dia seguinte na U.T.I. de um hospital.
Diagnóstico: envenenamento por aspiração.
Se minha missão era sigilosa, ao perder a consciência em meio a um pequeno público - era possível - bem que eu poderia ter pronunciado algo irrevelável.
Aí - respeito a decisão -, a empresa, desaconselhando qualquer tipo de investigação policial, de imediato me afastou daquela missão. Viajei ainda tonto.
Quando a ressaca passou, descobri que o melhor lugar é aqui mesmo, onde faz tempo que em quarentena estou.
Epílogo:
Concluí que, se a gente se engana e usa errado o álcool 70 desta quarentena, também se envenena.

 
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 26/12/2020
Alterado em 02/01/2021


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