Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

DIA DAS MÃES TAMBÉM É NATAL

 

 

No final do ano, em meio a guirlandas iluminadas, bolinhas coloridas e árvores enfeitadas, comemoramos o nascimento de Jesus.  Mostramo-Lo numa manjedoura.  Ao lado, a mãe do recém-nascido, com todos os cuidados pediátricos para alimentar aquele serzinho humano e protegê-Lo de tudo.  Analisando a história da Família Sagrada, reis avisados por símbolos celestiais, trouxeram presentes do Oriente, não para a mãe (tampouco para o pai), mas para o Menino Deus prometido.

Assim, Maria Imaculada, a mãe escolhida divinalmente, mesmo sob ameaças e intenso sofrimento, é pouco lembrada nessa importante página da história cristã.

Nada mais justo a humanidade, que lhe ficou devedora, fixar data especial no calendário para homenageá-la.  Um dia que não seja diferente do Natal:  com reunião da família, beijos, abraços e oferendas.   A Mãe Santíssima da humanidade precisa ser lembrada, sim, pela devoção que temos à nossa própria mãe, que a representa aqui na Terra. Marcou-se o Dia das Mães, que deverá ser igualmente celebrado como o Dia das Mães de todas as Mães.

 

- "Ah, que eu não tenho mais a minha mãe!"

Mesmo assim, comemore, ore, faça-a presente em seu coração. A grande parte de sua vida vocacional ela doou pra você, com certeza, com todo amor que sua alma poderia cumular.

 

- "Ah, que a minha mãe me abandonou!"

Saiba que onde ela estiver, hoje, estará lembrada de você, quiçá arrependida, quiçá envergonhada, quiçá em prantos... desejosa de ver e de ter você.  Tente encontrá-la e aprenda com ela a grandeza do "perdão", assim como a aspereza da "solidão".

 

- "Ah, que minha mãe é policial:  vive prendendo outras mães todos os dias, inclusive hoje e no Natal!"

Não a culpe por estar cumprindo uma obrigação.  Deus sabe o quanto lhe dói pôr algemas no pulso de outra mãe que - quem sabe as circunstâncias?! - foi levada ao martírio da contravenção. Mesmo que seja amanhã, beije-a e aceite que ela, ainda que armada e fardada, é sua mãe, é digna de ser amada.

 

- "Ah, mas a minha mãe é prostituta!"

Quem sabe as razões que a arrastaram para essa ainda não reconhecida profissão?!... Trata-se da maior violência social, o machismo, à qual uma mulher pode ser submetida. Falta-lhe trabalho menos submisso, falta-lhe comida, faltam-lhe instrução ou oportunidade para encarar a vida.  Todavia, que não lhe falte dignidade e o reconhecimento da sociedade de que grande parte das mulheres que caem na prostituição o fizeram como a última das opções: submissão, escravidão, "beco sem saída", final de vida...  Ame-a!  Saiba que ela necessitará pelo resto da vida desse seu amor, do qual você foge, do qual ela também foge.  Quem sabe, foi pelo intenso amor dedicado a você que ela, carente de tudo, decidiu negociar o próprio corpo?!...  Quem sabe, ela quis lhe proteger quando você ainda se espreguiçava numa manjedoura?!...

 

- "Ah, porque minha mãe dorme na rua e ainda é pedinte!"

Pedir para sobreviver não é o fim de tudo, embora essa dependência seja o nível mais baixo da humilhação. Ela não pede para si mesma. Migalhas recebidas são solidariamente redistribuídas. Ela pede para, de alguma forma, alimentar você.  Para ela (que de tanto escutar a resposta "não" já está cansada ou acostumada), parar de pedir significa a morte.   Pede porque não morreu ainda todo o seu amor por você.  Ame-a, com todos os seus molambos, com toda sua desesperança,  com o seu permanente cheiro de quem não tem banheiro...  Ame-a, sim, mesmo que o "amor" para ela possa significar um "palavrão".  Ame-a de verdade, porque ela, como mãe, mesmo em agonia, representa Maria, de mãos estendidas, implorando, não tanto uma refeição, mas a caridade, humanismo e afeição dos que fazem seleta a nossa sociedade.

O amor dessa criatura é maternal.  Afinal, mesmo descalça, maltrapilha, maltrajada, sem saber nem mesmo quem ela própria é,  ame-a:  Ela é MÃE;  Ela é MULHER.

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 08/05/2022
Alterado em 08/05/2022


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