A FELICIDADE PODE ESTAR PERTO
Como identificar a felicidade quando ela parece estar chegando perto de nós? É o mesmo que inquirir a respeito daquele pontinho flutuando a uma certa distância... Sua aproximação dá a entender que é uma flecha atirada em nossa direção. Precisamos preparar-nos conscientemente, seja para deixá-la passar, seja para tentar alcançá-la. Upa!... Retivemo-la com as mãos; acolhemo-la com paciência e determinação. Ela pode nos dar segurança, coragem, apoio e até transformar nossa água em vinho.
É a esse acolhimento, desobrigado do uso exclusivo do poder ou da força, que chamamos de inteligência do coração. E o que chamamos de inteligência (que não a do coração) é apenas lógica.
Se lógica é uma coisa - e inteligência do coração é outra coisa -, então: essa uma coisa nada tem a ver com aquela outra coisa.
Comparada ao amor, a lógica propriamente dita não chega a ser grande coisa, a não ser que ela tenha um dono, um autor ou um desbravador para externá-la. É quando nos cabe perguntar: - "E a felicidade que a gente externa, tem lógica?"...
Não! Se tudo aquilo que tem lógica tem dono - e a felicidade não tem lógica -, então: ninguém é dono da felicidade. Às vezes, podemos tê-la ou possuí-la, só por um instante ou por um bom período, como se fosse um aluguel. Se não formos pontuais no pagamento das mensalidades, corremos o risco de ser despejados por inadimplência. Às vezes, atiramo-la fora, como uma flecha. Ela é retilínea, não retorna. Aquilo que coopera para a nossa felicidade ou a de outrem, claro, deve ser guardado no íntimo (como se fosse uma flecha cravada no coração), com o fito de, mesmo inafastável, ser retocado, pincelado e lapidado cotidianamente.
Opa! Quase todo mundo tem medo do cotidiano, como se fosse fatal o tempo (quando ocupado com a felicidade) provocar cansaço, tédio, rotina...
Ora, por acaso a fatalidade existe para as coisas não lógicas?!... Não, desde que o cotidiano seja identificado como fonte de cumplicidade! O amor não usa relógio, logo, por ser distinguido como germinador da felicidade, superará sempre o cotidiano e suas prováveis fatalidades.
As frutas mais saudáveis advêm de uma boa germinação, entretanto, quando não colhidas, apodrecem no chão. Seu néctar, apurado desde a fecundação da semente, será todo desperdiçado. Ocorre da mesma forma com o néctar da felicidade que se perdeu, que se deixou para trás. A areia o absorveu para nunca mais ser consumido por ninguém. Cada ser tem o seu néctar exclusivo, exceto os humanos egoístas e presunçosos que não o toleram, exatamente por desconhecerem a doçura do amor.
No reino dos vegetais os maus hábitos do egoísmo e da presunção não existem, por mais que duvidemos. O pólen doador não tem sentido sem o estigma da flor - que o acolhe em qualquer ponto do universo. Urge, pois, experimentar o néctar que resulta desse perene gozo da natureza, verdadeiro amor a dois. Urge nunca desprezar o néctar da fruta que naquele coito está sendo concebida.
Em outras palavras: Nada na vida é tão completo e parecido do que um casal que sabe atravessar o tempo e bem aproveitar a natureza em que está inserido. A princípio, esse feliz casal desconhece o tédio e a rotina, quando fala do amor a dois; depois, aceita naturalmente que o carinho invada e substitua os impulsos irracionais da paixão... Mas, como viver essa longa ventura no terreno "racional" em que, não raro, só o absoluto é valorizado, ou melhor: só a raiz mais forte prevalece?!...
- "Você é diferente do que eu imaginava!" Expressão de machismo, de egoísmo, de uma lisonja sobre si mesmo... Será assim que os insetos falam para as flores às quais visitam?!...
Não é um erro que os parceiros, humanos, conservem uma parte da sua infância, uma parte da sua juventude, uma parte do seu sonho... por toda a vida. Se um casal é um conjunto de dois seres diferentes, se todas as crianças são conjuntos diferentes, se todos os jovens são subconjuntos desses conjuntos diferentes, por que não aceitar que cada ser adulto tenha o seu mundo diferente - um mundo que cada ser precisa respeitar para não se anular, para bem conviver?!...
O que se deve fazer mesmo é plantar raízes no terreno escolhido e bem regado - e ver o quanto elas respeitam as outras raízes que lá se encontram.
Quem quer dividir com o outro uma etapa da vida deve deixar de acreditar ou querer que acreditem ser possível entrar numa história importante sem, na verdade, estar disposto a dar pelo menos um pouco de si.
Medo? Não! Não se chega à felicidade com medo. Como as raízes o fazem, cedendo espaço para que as outras penetrem e se desenvolvam no mesmo terreno em comum, há os que se doam plenamente, da mesma forma como há os que amavelmente os recebem. Estes, sim, sabem deter nas mãos a felicidade encontrada, que se enraíza.
fernandoafreire
___________________________________________________ Inspirado num texto do livro "E se fosse verdade", de Marc Levy. ___________________________________________________
HOMENAGENS: Eu estava acabando de escrever este texto quando recebi uma mensagem (com foto) de Rosa Maria Viana do Amaral (professora Rosita) e seu dileto esposo, Antônio Muniz de Souza, numa praia, ainda comemorando o aniversário de 50 anos de casados. Moram em Cabedelo, cidade que me viu crescer. Sei que vão sempre comemorar esse feliz compromisso de convivência, de respeito mútuo e de amor eterno. Isto já fazem desde o primeiro ano de vida a dois - e a cada ano a festa fica mais bonita. Homenageio, por oportuno, a minha outra amiga, sua irmã, Rejane Viana, que também comemora com o seu estimado esposo, João Paulo do Nascimento, o meio século de vida a dois, sob as bênçãos divinas. Os casais que desafiaram o tempo sabem muito bem o que significa essa bênção divina. Hão de comemorá-la como uma magnífica e bem-aventurada vitória "per omnia saecula". Podia ser uma coisa corriqueira, mas não é! Estou me reportando a casais que sabem fazer a travessia do Mar Vermelho sem medo, com muita sabedoria, com bastante humildade, encarando todos os desafios da vida com fé, sem ostentações, sem receios e sem traumas. Sou testemunha de que as meninas que ora homenageio herdaram essas virtudes dos seus pais, que conheci: a virtude da solidariedade, a da partilha do pão (Upa! Eram dez irmãos!), a do amor ao próximo, a da empatia, a da compreensão do outro, e a do intenso respeito às Leis de Deus. Refiro-me a dona Santina e seu esposo (ao qual deu bola a vida inteira), o super-atleta Reginaldo Viana (famoso desportista que conheci pouco antes de Pelé). Estendo a mesma homenagem aos pais de Antônio Muniz e João Paulo, cujos nomes deixei de mencionar por não os ter conhecido presencialmente, mas fica a minha boa intenção pela certeza de que "Os iguais facilmente se juntam". Reuno à compartilhada homenagem, por ilustrarem o meu texto acima, o meu forte e afetuoso abraço para cada um dos casais que mencionei e passam a fazer parte da minha lista de grandes amizades. A todos vocês, este texto. Cordialmente
Fernando Aquino Freire
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Enviado por Fernando A Freire em 19/02/2023
Alterado em 03/05/2023 |