UMA CÂM(A)RA FURADA E JÁ CHEIA DE EMENDAS
Basta fazer uma pergunta: "Em quem você votou para deputado federal?"... Mais de 80% dos eleitores não sabem ou não se lembram. Tampouco sabem que eles representam todo o país, elaboram as leis e fiscalizam o Executivo. O Chefe do Executivo, a autoridade máxima do país, é o Presidente de República. Com absoluta certeza, 100% dos eleitores que votaram em algum candidado a presidente sabem em quem votaram. Sabem, sim, porque eram apenas dois candidatos ao Executivo no 2º turno. Analisemos o contrassenso: - elegemos para o Executivo um Presidente da República, reconhecidamente progressista; - contrariamente, elegemos para o Legislativo uma Câmara em que 3/4 dos deputados são conservadores confessos. Conservadores e progressistas têm pensamentos (e interesses) diferentes e caminhos inversos. Enquanto um lado defende o capital (produtivo ou especulativo), o lucro, o rentismo... o outro lado se preocupa com o social, o combate à miséria, a educação básica, os cuidados mínimos para com a saúde dos que nada têm... Evidentemente, para alcançar o seu objetivo, o social depende de capital. Os que lutam pelo social são chamados progressistas e, porque necessitam de capital, vivem de pires na mão, apelando para receber uma fatia do bolo que o poder econômico diz que "é preciso deixá-lo crescer para depois distribuir". Um bolo que somente cresce numa mesa de poucos convidados. A maioria que protege o capital, não é raro, se une para embargar (a título de fiscalização) quaisquer projetos sociais que venham a ser apresentados por seus opositores. Nada de diminuir seus lucros. - "Quando for bom para o país, nós votaremos": balela, demagogia, jogo sujo de um conservador que imagina ser um legítimo representante do povo. A lógica, a experiência e a história econômica do país nos garantem que tudo aquilo que é bom para o capital é extremamente doloroso para o social. Os senhores deputados sabem que seus nomes não são conhecidos, sequer lembrados, mas, mesmo assim, querem acumular riquezas e muito mais poder, ao transformar o atual regime presidencialista em parlamentarista. Um parlamentarismo anônimo, claro! No parlamentarismo, os deputados anônimos, com a nossa "procuração", elegem entre eles um primeiro ministro para nós totalmente desconhecido. Se isso acontecesse agora, com certeza escolheriam o mais destacado capitalista dentre eles para administrar um país cuja distância dos que têm para os que nada têm é cada dia mais gritante. Seria mesmo essa uma saída para diminuir os graves problemas sociais que nos afligem e de há muito nos envergonham?... Basta olharmos para o jogo da aprovação (ou não) das Medidas Provisórias essenciais para o início de um governo focado nos alarmantes problemas sociais e ambientais do país... Fomos nós, os necessitados, que elegemos esse parlamento "brincalhão". A culpa é nossa. Enquanto não nos educarmos como cidadãos civilizados e minimamente politizados, estaremos permitindo esse quebra-quebra na casa legislativa que deveríamos chamar de nossa. Uma casa onde hoje tudo se trama. . . . . . . . . . . . . . . . O que precisamos mesmo é ser mais atentos e coerentes ao votar nas eleições presidenciais e, simultaneamente, nos nossos representantes no legislativo. Sob o risco de não haver governança - o que é péssimo para o país -, precisamos dar ao presidente escolhido uma boa e proporcional base de sustentação. O conflito político-ideológico - Executivo versus Legislativo -, decorrente da nossa má escolha, faz a República desandar até desabar. Aí, sobre os escombros do imaginário país mais rico do mundo, brigaremos por vagas nas cavernas escavadas pelo garimpo ilegal, quais desinformados trogloditas.
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 25/03/2023
Alterado em 02/07/2023 |