FUTEBOL FEMININO: UM DESFILE DE MODA
Consigo despertar sempre às cinco da manhã. Hoje (24) aconteceu, mas foi quase uma obrigação. Afinal, temos toda uma Copa do Mundo para ver e torcer nalguns amanheceres até agosto. Nada como ligar a TV e ver a leveza do futebol feminino. Confesso que, antes de dormir, pensei que veria uma pelada. Ledo engano. As alemãs e marroquinas foram impecáveis em campo, tanto quanto seus penteados. No final, apenas um cartão amarelo, acho até que por exagero ou preconceito da senhora juíza. A jogadora punida, marroquina, é negra. Ficou sem entender nada. Melhor não sujar o texto com autoritarismos ou egocentrismos tolos. Passou. A seleção alemã, além de exibir um futebol de alto nível, foi preparada para um desfile de moda. Um belo uniforme por todos admirado, sem, no entanto, descaracterizar o uniforme oficial masculino. Um surpreendente desfile de modas. Aplaudi e esperei pra ver, às oito, a novidade no trajar de nossas jogadoras brasileiras, enfrentando as panamenhas. A princípio, seleção em campo, nenhuma novidade. Uniforme igualzinho ao desgastado azul amarelo da equipe masculina. Falei em desgastado a propósito. São cores que vêm sendo surrupiadas, recente e ideologicamente, por algum partido em nosso país. Melhor mudar. Que tal seguir a moda alemã?!... Isso, contudo, não me deixou triste porque a TV, num determinado momento, mostrou as jogadoras de reserva protegendo-se do frio com casacos e cobertores finamente bordados. Salvaram-se da minha crítica - tudo bem -, mas vamos tornar mais femíneo esse uniforme?!... Tratemos agora de futebol... Originalmente, um esporte de elite, só para homens, e exclusivo para pessoas de cor branca. Ganhou popularidade e se disseminou por diversos países, inclusive no Brasil, a partir de 1875. Um detalhe importante: a partir de 1904, Vasco da Gama, Bangu e São Cristóvão admitiram pessoas de cor em seus quadros. Foram, por isso, excluídos do campeonato carioca. Em 1921, o Presidente João Pessoa obrigou a CBD (Companhia Brasileira de Desportos) a somente convocar jogadores de cor clara para enfrentar disputas internacionais. Em 1924, Flamento, Fluminense e Botafogo retiraram-se do campeonato carioca por conta da reinclusão do Vasco, Bangu e São Cristóvão entre as equipes concorrentes... Só mesmo na década de 1930 é que a situação se normaliza. Quase não teríamos visto o nosso Pelé ! . . . Imagine-se o preconceito contra a mulher, apesar de uma mostra de dois times femininos de elite num evento de caridade. em 1913 ! . . . Hoje, futebol é raciocínio rápido, esforço físico e arte. Os homens desempenham muito bem, especialmente o esforço físico. Mas a mulher, que tem um pouco de cada um desses requisitos, é insubstituível em "arte". Arte foi o que vimos de sobra, hoje de manhã, na Austrália. Digo melhor: em Adelaide. Adelaide, sim! Nome de mulher, porque a copa é feminina!!... Paremos um pouco para rever o terceiro gol do Brasil contra o Panamá, a partir de um extraordinário passe saído da ponta esquerda. Parecia não haver tanto esforço físico, mas uma perfeita coordenação entre quatro jogadoras, até o lance final de uma bola atrasada de calcanhar para a goleadora Bia Zaneratto fazer o gol. Fenomenal. Uma obra de arte digna de um Van Gogh. Fiquei tão orgulhoso, como brasileiro, que não quero mais perder nenhuma partida de futebol das meninas, mesmo uma pelada. Uma coisa também que nos toca: Quando a Bia fez o primeiro gol, não correu para o abraço, mas se ajoelhou e chorou. Coisa de mulher. Mostrou que não se chora somente de tristeza, mas de alegria também. As lágrimas parecem reativantes. Não é que ela fez três gols, dos quatro da goleada!... Pra frente, garotas!... Pra frente, Brasil ! . . . Vamos pedir à FIFA para dobrar ou triplicar o tempo do intervalo. Os dez minutos que hoje são concedidos não dão pra refazer a maquiagem, não?!...
Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 25/07/2023
Alterado em 26/07/2023 |