Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

A HISTÓRIA NOS ENSINA A SER DEMOCRATAS

 

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Inspirado no comentário que escrevemos/encaminhamos

para o texto: O velho soviético

De: José Lourenço Florentino

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Em tempos ditatoriais as inverdades prosperam. O sr. Nike (que, presumivelmente, aportou no Brasil em tempos democráticos) fugiu de uma ditadura, e nada mudaria em sua vida se tivesse aportado noutra ditadura, como a que aqui tivemos. Só pelo fato de ser soviético, já teria sido desqualificado e tudo lhe seria negado.

Tivemos, ou sofremos, uma ditadura militar (1964/85) que foi ordenada, coordenada e até financiada pelos EUA, concomitantemente, em seis países da América Latina. Em qualquer desses seis países o senhor Nike teria sido recebido como um ser perigoso e desprezível, por conta de sua nacionalidade.

Tais regimes ditatoriais foram a extensão do macarthismo norte-americano (que expulsou do seu país - digo: baniu - até atores de cinema, inclusive Charles Chaplin, por propagarem o "comunismo" - Quê comunismo?).  Não pensar igual a eles - macarthistas - era comunismo.  Divergir dos ideais norte-americanos era comunismo.  Falar em problemas sociais era comunismo.  Estudar a história da Rússia, ou de qualquer outro país não capitalista, era comunismo.  Criticar o capitalismo, era comunismo..

O regime ditatorial implantado vendava nossos olhos, tapava nossos ouvidos e travava nossas línguas. Por isso - jornais, livros, filmes e teatros censurados -,  os que se adaptavam a essa forma de viver achavam-se seguros e policiados, pelo menos até a prisão de um familiar ou amigo dedurado ou injuriado como "comunista". De resto, o clima no país era de aparente, suposta e contestável paz.

Na verdade, no escuro todos os gatos são pardos.  Vivíamos todos no escuro e com a cauda presa entre as patas.  A cada minuto, um de nós podia ser surpreendido e arrastado. 

Quanto à paz aparente, a grande diferença era que as ditaduras latino-americanas atuavam em conjunto e sob o escudo da Operação Condor (ver na Internet o terror dessa operação, que começou sigilosa e anonima, culminando sob o comando de Pinochet).   Pela Operação Condor, as seis ditaduras se comunicavam entre si, via telex exclusivo.  Objetivo primordial da operação:  trocas sigilosas de prisioneiros considerados "subversivos" - para serem torturados e dizimados à distância. No país de origem, ninguém via, ninguém sabia nada sobre essa viagem derradeira de seus patrícios.  Sob um clima de paz e de felicidade aparentes, a lista de desaparecidos era um pingo de esperança para as mães sofridas:  a grande mentira, a farsa... /// 

Aí, Lourenço, você esquece o seu país e fala mal da Venezuela.  Era a mesma coisa na época da ditadura. Os EUA tiravam todas as condições de sobrevivência do povo cubano, através de boicotes e impedimento de qualquer relação comercial ou financeira com Cuba, só para mostrar a comparação:  "Vejam o que é o comunismo, vejam o que é o socialismo!"...  E a gente via a miséria daquele país (e não do nosso) e concordava e se conformava com as prisões, com os desaparecimentos, com os fuzilamentos (...) comuns nas seis ditaduras irmãs. 

Mas, voltando à Venezuela, trata-se de um país que, até poucos anos, tinha a maior renda "per capta" da América Latina e - o que devemos considerar mais importante - na década de setenta um venezuelano ganhou o Prêmio Nobel de medicina.  Essas coisas nunca tivemos.  São acontecimentos que o mundo esquece.  Aí, em 1998, esse país elege um militar (Chaves), como seu presidente.  Esse militar, ainda com apoio popular, derruba o Supremo, muda a Constituição ao seu bel prazer e ocupa todos os cargos federais com seus generais. Está aí a Venezuela de hoje, absolutista e militarizada, que você critica sem analisar as causas.

Os democratas brasileiros, na eleição de 2022, não permitiram que o nosso país se venezuelasse com um golpe de Estado, ou uma "democracia" disfarçada, igualmente militarizada.  Deo Gratia!...  Dissemos não ao armamento geral da nação.  Dissemos não ao militarismo mercenário.  Dissemos não aos assassinatos encomendados.  Dissemos não à interferência militar na política e no governo, em detrimento do Estado.  Dissemos não a uma governança baseada na mentira, no preconceito e no ódio aos adversários.  Escapamos de ser fuzilados por pensar diferente do ditador que queria se perpetuar no poder.  Reagimos com o nosso voto.  Foi a história que nos ensinou a reagir democraticamente.

 

                                                       (fernandoafreire.net)

 

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Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 01/08/2023
Alterado em 07/08/2023
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