Fernando A Freire

Amar a dois sobre todas as coisas

Textos

ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, ARCO E FLECHA

 

 

Reproduzo os termos de meu artigo, de 15/10/2023, homenageando o acadêmico indígena Ailton Krenak no dia de sua eleição.

.....     .....     .....     .....     .....     .....     .....

A Academia Brasileira de Letras acaba de eleger (05/10/2023) seu mais novo imortal: AILTON KRENAK. Grande líder indígena da hodiernidade, ele ocupará a Cadeira 05 deixada por José Murilo de Carvalho, "imortal" falecido em agosto último.

Poeta, filósofo, historiador e escritor (em cujos livros aborda temas como:  a cidadania para preservação do meio ambiente; cultura e direito dos indígenas; valorização da escrita e da oralidade...), KRENAK é o primeiro indígena brasileiro a fazer parte da A.B.L.  A propósito, disputou a vaga com outro escritor também indígena - Daniel Munduruku.

Desçamos de nossa caravela e, em vez de dar-lhe espelhinhos, vamos espiar e admirar as folhagens de sua floresta curricularNos arcos do caminho, certeiras flechas apontando para um amanhã de paz entre todas as tribos da humanidade - a saber:

- participou da Assembleia Nacional Constituinte (1987);

- organizou a Aliança dos Povos da Floresta (que reúne comunidades ribeirinhas e indígenas da Amazônia);

- recebeu o título de Comendador da Ordem do Mérito Cultural da Presidência da República;

- é Doutor Honoris Causa pelas Universidades Federais de Minas Gerais e Juiz de Fora...

Escreveu e publicou os livros:

- Ideia para adiar o fim do mundo (2019);

- A vida não é útil (2020);

- O amanhã não está à venda (sobre o Covid-19 e a vacina: 2020/21)

- Lugares de origem (2021);

- Futuro ancestral (2022);

- O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo (co-autoria com Helena Silvestre).

- Tembetá (Trajetórias e reflexões de grandes pensadores indígenas).

Alguns "excerptus" de suas publicações:

- "Indígenas lutam por seus direitos"...

- "Preservar, uma forma de conservar o futuro"...

- "Tomara que não voltemos à normalidade, pois, se voltarmos é porque não valeu a pena a morte de milhares de pessoas no mundo inteiro" (sobre a pandemia do Covid-19 e o comportamento humano)...

- "Se eu pudesse inspirar uma atitude global seria:  Pare e sonhe.  Se nós tivermos coragem para sonhar é porque acreditamos que existem mundos, possibilidades"...

Krenak é agora um indígena imortal, logo, importa apenas marcar a data e local do seu começo:

nasceu em 1953 na região do Vale do Rio Doce, leste mineiro e território de um povo de mesmo nome (Krenak).

Sua escolha para a A.B.L. teria sido uma resposta daquela instituição ao Congresso menos qualitativo e, sobretudo, menos representativo que este país já teve desde a Constituição de 05/outubro/1988?!... Pelo menos, coincide com o conflito entre a bancada ruralista desse "Congresso Nacional" e o Supremo Tribunal Federal, relativamente ao Marco Temporal.  O STF, órgão máximo do Poder Judiciário no Brasil - que somente atua em defesa da Constituição Federal, assim mesmo quando provocado por alguma parte interessada -, dá amparo constitucional aos indígenas, enquanto a bancada ruralista do Congresso, com interesse nas terras que ainda sobraram para os silvícolas, contesta e já projeta alterar a Constituição para levar vantagem.  Nada como distribuir espelhinhos com os que lideram as demais bancadas!  Involuir é simples assim!...

É oportuno lembrar -  em especial aos grandes proprietários de terra - que, em 22/abril/1500, o Brasil não foi descoberto, mas ocupado pelos navegadores portugueses, que aqui encontraram, em toda parte, povos originários.  Os ocupantes se serviram dos indígenas, obrigando-os, mais tarde, a guiá-los nas expedições denominadas "Entradas e bandeiras".  Por esse caminho, os invasores chegaram a ocupar a grande parte das terras indígenas, escravizando e dizimando tribos inteiras que aqui viviam sossegadas.  Mas, parece-me que sua sanha dominadora de então ainda não cessou, visto que os cinco séculos que se passaram vêm transferindo o mesmo DNA truculento para as gerações herdeiras.

"Deo Gratia", temos indígenas devidamente preparados e escrevendo a nossa verdadeira história.

Parabéns Ailton Krenak e Daniel Munduruku pela coragem de relatar os seus sonhos! 

Parabéns por acreditarem nas possibilidades de uma convivência pacífica - nem que seja amanhã - com aqueles para quem perderam parentes e grandes extensões de terra outrora fértil!

Parabéns por acreditarem que Anhangá vai sempre lhes fazer sonhar!...

Fernando A Freire
Enviado por Fernando A Freire em 06/04/2024


Comentários

Site do Escritor criado por Recanto das Letras